Diario de Pernambuco
Busca
Editorial Na contramão da história

Publicado em: 25/11/2019 03:00 Atualizado em: 05/12/2019 14:37

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acaba de jogar uma pá de cal nas já natimortas negociações de paz entre israelenses e palestinos pela disputa de territórios numa das regiões mais beligerantes do mundo, o Oriente Médio. A esperança de os dois povos conviverem sem enfrentamentos, o que ocorre frequentemente, foi praticamente sepultada com o reconhecimento da legalidade, pelos EUA, o maior aliado de Israel, dos assentamentos judeus na Cisjordâsnia, onde, teoricamente, deveria existir o Estado da Palestina, reivindicação histórica desse povo que vive na marginalidade, pois não tem um país de fato, conforme previsão de tratados internacionais.

A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de seguidas resoluções, tem reiterado, insistentemente, a ilegalidade dos assentamentos patrocinados pelo governo de Israel, numa clara afronta à Quarta Convenção de Genebra, que proíbe “a deportação ou transferência de partes da população civil de um país” para um território ocupado por ele. Acontece que os palestinos lutam pela terra onde se encontram os assentamentos israelenses para a formação de seu sonhado Estado.

No entanto, o sonho só se transformará em realidade quando Israel atender o clamor internacional e desistir de ocupar áreas destinadas aos palestinos. E no momento em que países do peso dos Estados Unidos reconhecem a soberania israelense sobre essas áreas, fica praticamente impossível a criação de um Estado palestino com fronteiras contínuas. Se um dia este povo conseguir edificar seu país, o mesmo terá inúmeros enclaves da nação judia, o que fere os acertos patrocinados pela comunidade internacional.

Ao reconhecer a legalidade, o presidente norte-americano vai contra orientação implementada em 1978 pelo Departamento do Estado e seguida por governos democratas e republicanos de considerar ilegais os assentamentos na Cisjordânia. Na administração passada, o então presidente Barak Obama chegou a afirmar que eles eram verdadeiros obstáculos para se chegar a um acordo de paz e para a solução de dois estados na Palestina. A questão de fundo é que enquanto construía casas para judeus em terras palestinas, Israel destruiu milhares de residências em comunidades árabes.

Na contramão da história

A estratégia de patrocinar assentamentos em territórios anexados após conflitos armados começou em 1967, depois da Guerra dos Seis Dias, quando Israel ocupou as Colinas de Golã (Síria), a Faixa de Gaza (Egito) e a Cisjordânia (Jordânia), incluindo Jerusalém Oriental. A política de ocupação se intensificou a partir de 1978, e nos últimos 20 anos o número de colonos judeus na Cisjordânia e no setor árabe de Jerusalém mais do que dobrou.

Esta não é a primeira vez que Trump se alinha a Israel. Ele já reconheceu a anexação das Colinas de Golã, rejeitada pela ONU, e mandou transferir a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, cuja parte oriental os palestinos consideram a capital de seu futuro país. A questão que se impõe é que, ao tomar medidas como essas, na contramão da história, Trump elimina qualquer possibilidade de os EUA atuarem como juízes neutros nas negociações de paz que devem e podem ser retomadas o quanto antes.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL