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Editorial Juros mais civilizados

Publicado em: 02/11/2019 03:00 Atualizado em: 02/11/2019 07:50

O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu de 5,5% para 5% a taxa básica de juros. A decisão era esperada. No próximo mês, a Selic deverá cair ainda mais e fechar o ano em 4,5%. As sucessivas quedas revelam o empenho do Banco Central em criar um cenário favorável aos brasileiros que desejam abrir ou ampliar seus negócios. Ainda assim, a economia segue patinando, e não à toa. Os empréstimos oferecidos pelos bancos, inclusive os oficiais, ainda são muito caros. As taxas cobradas, tanto pelo cheque especial quanto pelo cartão de crédito, passam de 300% ao ano.

Na avaliação de analistas, a tendência do Copom é de empurrar os juros a patamares cada vez mais civilizados. Em algum momento, os bancos também terão que rever as taxas cobradas e tornar o crédito mais acessível tanto para empresários quanto para clientes pessoa física. Dificilmente, o quadro atual da economia poderá mudar se não houver um reforço na produção e no consumo. O mau desempenho do setor industrial é resultado, em boa parte, da retração das vendas no comércio, seja por falta de empego, seja pelo custo elevado do dinheiro.

Os rumos da política monetária forçarão uma mudança de comportamento entre rentistas — aqueles que ganham no mercado financeiro sem fazer qualquer esforço. Esse grupo terá quer ser criativo e buscar meios de nutrir o próprio capital a recorrer às oportunidades existentes no mundo real. Uma opção é apostar em empresas que, por sua vez, terão dinheiro suficiente para expandir suas atividades. Esse novo jeito de fazer a roda girar deverá atrair profissionais, hoje na informalidade. O desemprego, que cai lentamente, poderá diminuir com mais rapidez.

Nos últimos três anos, a taxa Selic despencou de 14,25% para 5% ao ano. Em contrapartida, a Bolsa de Valores ganhou quase 900 mil investidores. Grandes grupos do varejo perceberam a mudança. Se não dá para recorrer aos bancos em busca de crédito, ante o preço exorbitante do dinheiro, a saída é lançar ações e captar recursos de quem deseja apostas mais seguras e, assim, ter meios para incrementar os negócios.

Ninguém duvida de que juro baixo seja excelente para a economia. Mas é fundamental a adesão dos grandes bancos e o aumento da concorrência entre as instituições financeiras. As reformas em tramitação no Congresso Nacional são marcos legais indispensáveis para redesenhar o perfil econômico do país. Mas quaisquer medidas serão insuficientes se não houver um esforço conjugado de todos os setores para que o país se reencontre com crescimento e o desenvolvimento. O setor bancário não pode ser exceção.

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