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De cães e de seus passeios...

Vladimir Souza Carvalho
Presidente do TRF5

Publicado em: 13/11/2019 09:00 Atualizado em:

O séquito era de seis cães, todos nascidos e crescidos na rua, autênticos vira-latas de várias conotações. A frente, ela, a cadela, em pleno cio, pescoço erguido, cônscia, com toda a certeza, que os cães estavam ali atraídos pelo cheiro que dela emanava. Todos em passo apressado, se deixando conduzir pela fêmea. A cena não me era inusitada. Menino, vi nas ruas de Itabaiana, passeios idênticos. O mais recente ocorreu em Salgueiro, sete anos atrás, num sábado pela manhã, eu caminhando em torno do hotel, tendo no palco, digo, na rua, uma matilha bem maior, uns 20 cães, e a cadela, bem, dando corda a todos os valetes ali presentes. O grupo seguiu avançando em linha reta, até que, numa esquina, três cães pararam, como a dizer que, dali para a frente, não dariam um passo a mais, como não deram. O que me chamou a atenção foi a curiosidade dos três, parados, a acompanhar o passeio dos demais.

Agora, o daqui, teve final trágico. Os cães passaram, ingressaram no jardim de um edifício, invadiram área de um shopping, tentaram sair, e, não sei porque cargas d´agua, retornaram ao ponto de partida, palmilhando outros jardins do edifício onde meu flat se aloja. Passaram por mim, indiferentes a minha caminhada matinal, e, adiante, ouvi uns latidos típicos de cães que se digladiavam, o focinho se abrindo para mostrar os dentes, e, eu, para mim, a achar que a briga entre eles, na disputa da cadela, enfim, encontrava seu início. Adiante, quando contornei grande parte do edifício, observei que os cães, silenciosamente, ingressavam na avenida ao lado, tomando rumo que escapou de minha visão.

Passei, então, no local onde o incidente, digamos assim, ocorreu. Um motoqueiro, indignado com o cadáver de um timbu no gramado do jardim. Olhe o que cães fizeram, proclamava. Ironicamente, indaguei se ele queria que fosse o leão ou a cobra o autor do ratocídio, no que ele não gostou ou não entendeu. O cadáver apresentava marcas de ter sido atingido na garganta, a vítima, no seu passo miúdo, sem conseguir escapar do perigoso séquito que lhe alcançara na malograda tentativa de se salvar. Na garganta estraçalhada, os cães gastaram a energia reservada à cadela, fruto de dentes bem afiados. O timbu pagou o pato com a vida. Os cães seguiram adiante. Penso que o assassinato não mereceu um só registro policial, aumentando, assim, a estatística dos crimes impunes na bela e histórica cidade do Recife.

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