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Editorial Aproximação com a China

Publicado em: 15/11/2019 03:00 Atualizado em: 15/11/2019 07:41

A declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, relativa às tratativas para um acordo de livre-comércio com a China, provocou imediata reação em setores da indústria brasileira, receosos de uma concorrência desleal com produtos chineses. O temor é a invasão do mercado interno pelos bens fabricados no gigante asiático, a segunda maior economia do mundo (só fica atrás dos Estados Unidos), a preços muito inferiores aos produzidos aqui. Alertam que a indústria nacional não está preparada para qualquer abertura em grande escala do mercado local, uma vez que a China tem baixos custos de produção e alta eficiência — lá, praticamente, inexiste legislação trabalhista.

Ao falar sobre a possibilidade de criação de uma free trade area (área de livre-comércio), Guedes mostra a importância que o Planalto dá ao estreitamento das relações comerciais com o parceiro do Brics, grupo de países integrado pelo Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul. No entanto, representantes da indústria nacional não escondem sua preocupação com a criação de uma área, em que barreiras tarifárias praticamente não existem. Entendem que os produtos brasileiros não teriam condições de competir com os similares chineses, levando a indústria nacional à bancarrota.

Economistas lembram que os chineses têm uma produção tecnológica e científica de ponta e inundam o mercado mundial com seus manufaturados, inclusive os países da América do Sul. Hoje, o Brasil vende para a China, basicamente, commodities, e o objetivo do governo é aumentar os itens da pauta de exportações, atualmente concentrada em três produtos: soja (34%), óleos brutos de petróleo (24%) e minério de ferro (21%). A segunda economia mundial é a maior parceira do Brasil, seguida pelos Estados Unidos e Argentina. De janeiro a outubro deste ano, o superavit brasileiro foi de R$ 21,5 bilhões.

Se a intenção externada por Paulo Guedes prosperar, não serão nada fáceis as negociações para se chegar a uma zona de livre-comércio. Inicialmente, um acordo comercial entre os dois países tem de ter o aval dos outros países que fazem parte do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai), o que vem ocorrendo desde 2000. Sair do bloco sul-americano seria bastante temerário. Outra questão é que seria difícil para o Brasil estabelecer uma relação comercial com a China totalmente livre, porque a nação asiática não segue todas as regras internacionais de comércio.

É bastante positiva e benéfica a iniciativa do ministro da Economia, visando a uma maior aproximação com os chineses. E também do presidente Jair Bolsonaro, que deixou de lado o discurso de campanha eleitoral — ele disse, na ocasião, que “a China não está comprando no Brasil, está comprando o Brasil” — e busca estreitar os laços com o gigante asiático. As relações internacionais, sobretudo no campo comercial, devem e têm de ser pautadas pelo pragmatismo e em defesa dos interesses nacionais. Mas não se pode perder de vista quais serão os ganhos e as perdas para o Brasil e a indústria nacional, que não podem se amparar em benesses governamentais, tampouco ser abandonada.

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