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A primeira semana sem Inaldo Sampaio

José Roberto de Souza
Doutor em Ciências da Religião e professor universitário
opiniao.pe@diariodepernambuco.com.br

Publicado em: 20/11/2019 03:00 Atualizado em: 21/11/2019 08:11

Resolvo escrever este artigo para que as pessoas conheçam um pouco sobre o outro lado do saudoso e competente jornalista Inaldo Sampaio. Sempre lembrado pelos seus excelentes comentários políticos, bem como por sua ética e seu extraordinário profissionalismo, tive eu o privilégio de vivenciar sua companhia nos seus últimos dias de vida. Muito particularmente, tive acesso ao exercício da sua fé. Na sua última quinta-feira (07/11/11), à convite do seu sobrinho, o professor Pablo Sampaio, visitei na parte da tarde Inaldo no seu apartamento. Tirando o desconforto da cirurgia que lhe impedia caminhar, estava aparentemente ótimo. Sentado numa cadeira no terraço do seu apartamento, com o noteboock apoiado sobre a sua barriga, digitando a sua coluna para o Diario de Pernambuco, além de um rádio ao lado para acompanhar os noticiários (ainda assim bastante atencioso a nossa visita), entre vários assuntos esboçou o desejo de realizar um culto na sua residência, tendo em vista a dificuldade da sua locomoção para outro local. Acertou os detalhes com seu sobrinho Pablo e ficou combinado que o culto ocorreria na noite do dia 23/11/19 (algo que infelizmente não foi possível). Pediu para a pessoa que lhe prestava serviços que fosse servido um café, acompanhado de uma excelente e crocante bolacha. Inaldo pediu para que tirasse as bolachas do seu lado, pois corria o risco de comer todas. Na ocasião, presenteei com mais um livro que organizei: Lideranças Protestante no Brasil: ensaios biográficos. No dia seguinte, enviou-me uma mensagem e relatou de forma sintetizada e precisa a leitura de três dos personagens que são homenageados no livro. O nosso último contato foi no domingo (10/11/19). Primeiramente, pela manhã. Quando abri meu WhatsApp, havia uma mensagem sua enviada às 07h26 com o seguinte conteúdo: “Bom dia, amigo, este já é o terceiro domingo que acordo com a cabeça fixada no Dr. Butler. Aumenta a cada dia o desejo de visitar o túmulo dele em Canhotinho e a certeza de que ele está interferindo junto ao Senhor Jesus em prol da minha mobilidade”. Depois da leitura, prontamente respondi: “Bom dia, meu amigão! É comum que homens e mulheres que por aqui passaram e deixaram seu exemplo de vida, quando nos tornamos conhecedor de suas histórias, somos muito impactados. É o que está acontecendo com você em relação à vida exemplar do saudoso médico amado. De fato, a história de vida do Rev. Butler é extraordinária. Todavia, fique certo também que, por sua vez, há dezenas de pessoas intercedendo por você diante de Deus! Pessoas que você sequer conhece. Mas que ouviram o pedido em seu favor, e se juntaram nesse clamor. Nesse caso, meu nobre amigo, a Bíblia afirma que é o próprio Jesus Cristo que intercede por nós diante de Deus! Continuo orando por você, assim como muitos! Que o Senhor permita que venhamos, quem sabe, até mesmo juntos: eu, você e Pablo, visitar Canhotinho e consequentemente o túmulo do saudoso Butler. Tenha um excelente domingo debaixo da graça de Deus”. Como sempre fez, Inaldo prontamente respondeu: “Obrigado, amigo, pelas suas palavras de conforto e fé!”. No breve momento de despedida, às 07h40, afirmei: “Estou indo agora pra igreja. Estarei intercedendo por você!”. Inaldo, por sua vez, disse: “Amém!”. Ainda na igreja, às 10h21, através de uma mensagem, compartilhei com Inaldo o texto da minha reflexão dominical, baseado em Atos 10: 1-4, falando um pouco sobre a vida do centurião Cornélio: um homem piedoso, temente a Deus, que socorria os necessitados e que continuamente orava. Inaldo, depois da mensagem, respondeu: “Amém, amigo!”. À noite, precisamente às 19h50, depois do culto, e de volta para casa, na companhia do professor e cientista político Hely Ferreira, resolvi ligar para Inaldo. Assim que me atendeu, já foi falando: “Boa noite, meu amigo”. Enquanto isso, eu contei que estava ao meu lado um dos seus amigos. Passei o celular e Hely falou alguns instantes. Em seguida, falei rapidamente e conclui: “Meu amigo, a lista de pessoas que tem orado por você tem crescido”. Depois, despedi-me. E as suas últimas palavras foram: “Muito obrigado, meu amigo!”. No dia seguinte (11/11/19), às 05h40, fui surpreendido com a mensagem do seu sobrinho Pablo: “José Roberto, meu amigo, acabei de saber que meu tio Inaldo faleceu”. Certa ocasião, o poeta Rubem Alves afirmou: “A saudade é um buraco dolorido na alma. A presença de uma ausência. A gente sabe que alguma coisa está faltando. [...] Tudo nos faz lembrar a pessoa querida”. Isso me fez lembrar que esta é a primeira semana sem Inaldo Sampaio.

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