Diario de Pernambuco
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A igreja dos militares e uma joia de álbum

Luzilá Gonçalves
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 12/11/2019 09:00 Atualizado em:

Não conheço nenhum trabalho realizado no Recife sobre essa maravilha de nossa arte barroca – arquitetura e acervo pictural – a Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, que esse extraordinário álbum, intitulado por seu autor, José Luiz Mota Menezes, A Arte da Imagem. Extraordinário é bem o termo. E a gente se espanta de que esse maravilhoso exemplar de nossa arte religiosa, que julgávamos conhecido, pelas tantas vezes em que ali penetramos, em visita a amigos turistas ou outros, ou quando ao passar pela rua Nova sentíamos desejo de um pouco de recolhimento, guardava um espantoso acervo do que foram nossos artistas do passado, na interpretação da história religiosa, enquanto criadores e intérpretes da iconografia que os precedeu, emprestando-lhes um toque bem pessoal, o de verdadeiros artistas. Todos conhecemos a cultura do professor José Luiz, arquiteto, escritor, pesquisador, certamente o maior conhecedor de nossa arte do passado, e que por muitos anos formou gerações de estudantes e artistas na UFPE, no Colégio Industrial, na Escola de Belas Artes, com a curiosidade de pesquisador e a generosidade de quem se compraz em repartir o saber e fomentar o gosto pela beleza e orgulho por nossas riquezas culturais. Mas desta vez José Luiz se ultrapassou: ao lado de Gustavo Maia, cuja sensibilidade e domínio na arte da fotografia se junta ao conhecimento do detalhe, da descoberta das expressões dos personagens, dos olhos angustiados, dos gestos, das roupas – que nunca havíamos notado- e nos fazem compartilhar de um mundo grave, misterioso, onde até mesmo os anjinhos se mostram temerosos, solenes, tristes. Nesse álbum, José Luiz esbanja cultura e um refinado gosto estético. Mergulhou fundo na iconografia religiosa de tempos anteriores, descobriu e desvendou, para nós, pinturas passadas que inspiraram nossos artistas. Lembrou que a cena onde se vê o ventre de Maria exposto, com a criança já completa, foi um tema recusado por muito tempo como escandaloso e contrário à tradição da concepção do menino Jesus. Descreveu as pinturas do teto, da sacristia, dos altares laterais e, como se isso não bastasse, deu-nos uma lição de arquitetura, na construção do edifício, na arte do jogo dos vazios e da utilização dos espaços. E lembrou a importância de um tal monumento para um Recife que começava a se impor enquanto importante centro urbano. De parabéns estão nosso Zé Luis, Gustavo Maia, o Bureau de Cultura, a Fundarpe. O governo do estado, que apoiaram esta obra-prima, um álbum que nos faz descobrir riquezas, ensina a ver melhor aquilo que julgávamos conhecer e nos torna orgulhosos por possuir um tal patrimônio.

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