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Você conhece a sua criança interior?

Ana Maria Castelo Branco
Mestra em Letras pela UFPE, professora e contadora de histórias

Publicado em: 11/10/2019 03:00 Atualizado em: 11/10/2019 09:38

Ela existe, e está em nossas memórias afetivas, embora muitas pessoas a deixaram adormecer com o passar dos anos. A correria do dia a dia já não nos tem permitido passear de mãos dadas com a criança que mora em nós e que nos permitiu tanta diversão por meio de jogos, brincadeiras, danças e cantos sem a preocupação do que os outros estavam pensando a nosso respeito, pois a nossa criança não dava bola para terceiros, simplesmente mergulhava na magia da luz, do som e da imaginação fazendo a vida ser um encanto, um deslumbramento a cada esquina.

A data mais aguardada pela criançada é o Dia das Crianças, que vem com prenúncios de presentes, seja dos familiares, amigos ou professores. Essa data teve origem com a aprovação do Decreto de Lei nº 4867, de 5 de novembro de 1924, que oficializou o dia 12 de outubro como o Dia das Crianças aqui no Brasil, o qual coincide com o dia de Nossa Senhora Aparecida –“Padroeira do Brasil”, Feriado Nacional.

Alguns países como Angola, Portugal e Moçambique adotaram o dia 1º de junho para comemorar o Dia das Crianças, no entanto, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia Universal da Criança é celebrado em 20 de novembro, em homenagem à data da aprovação da Declaração dos Direitos da Criança em 1959.

É importante ressaltar que o Dia das Crianças ganhou popularidade a partir de 1960, ano em que a Fábrica de Brinquedos Estrela fez uma promoção com a Johnson & Johnson e criou a “Semana do Bebê Robusto” a fim de aumentarem suas vendas. A partir deste momento, a data passou a ser marcada pela oferta de presentes para as crianças, principalmente brinquedos.

Destacamos que nesse momento do nosso calendário, estamos vivenciando a semana dedicada às crianças. Assim, as instituições públicas e privadas costumam preparar atrações e presentes para receber os meninos e as meninas, que conforme o Art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente possuem até doze anos de idade incompletos.

Na atualidade percebemos o quanto a vida infantil sofreu mudanças em comparação com alguns anos atrás. Na década de 1980, por exemplo, os nossos brinquedos eram criados com pura imaginação: pedras viravam bois, lençóis viravam casinhas e latas viravam os mais variados carrinhos, não haviam os eletroeletrônicos e não possuíamos tanto medo de sair às ruas para brincar. Andávamos de bicicleta com a rapaziada do bairro, e ficávamos nas praças e calçadas até tarde da noite ouvindo as conversas e resenhas.

Os jogos, as brincadeiras e as amizades eram constantes e não precisávamos adentrar esse universo consumista da realidade  atual em que o ter vai além do ser e do parecer. Naquele tempo, com os nossos colegas de escola ou os nossos vizinhos da mesma rua podíamos ir e vir sem preocupações com a violência.

Da década de 80 pra cá, tudo se transformou. A tecnologia subtraiu da infância muitas coisas que foram deixadas para trás. Hoje, o brincar tomou ares solitários, pois os nossos avós já não nos contam histórias como antigamente e os jogos e as brincadeiras que eram espontâneas e muito frequentes nos lares, foi ficando distante e virando temática de cursos superiores ou de extensão com o intuito  de resgatar um pouco do prazer pelo lúdico, ensinando as crianças a importância da interação, da socialização e do espírito de coletividade.

É tradição que no Dia das Crianças existam muitos eventos com o objetivo de divertir não só a criançada, mas toda a família. Nos hospitais, por exemplo, as ONGs participam arrancando sorrisos dos pacientes infantis, através dos grupos de palhaços,  dos voluntários que se vestem de personagens diversos e dos contadores de histórias. Juntos, eles fazem  uma programação diferenciada e distribuem brinquedos e livros.

Embora essa seja uma data festiva, é importante o alerta para os problemas enfrentados pelas crianças não apenas em nosso estado, mas no mundo todo: falta de educação, desestruturação familiar, trabalho infantil, exploração e abuso sexual, fome e subnutrição.

Diante das adversidades cotidianas, sentimos o quão importante é para nós reavivarmos a nossa criança interior, pois é ela quem mantém a chama da vida acesa, quem nos dá entusiasmo, leveza,  curiosidade, humor e espontaneidade para a superação dos problemas diários.

Que no dia 12 de outubro, cada um de nós viva o espetáculo do encontro com a nossa criança interior e faça desse momento a magia para nos tornar uma pessoa melhor. Nessa data tão bonita, que tal internalizarmos o chamamento espiritual que diz: “Deixai vir a mim as crianças, porque delas é o Reino dos Céus.” (Mateus 19:13-15).

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