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Mobilidade urbana também é democratização

Janguiê Diniz
Presidente do Conselho de Administração do grupo Ser Educacional

Publicado em: 04/10/2019 03:00 Atualizado em: 04/10/2019 06:34

Perdas de R$ 267 bilhões por ano. Esse é o impacto dos congestionamentos de trânsito na economia brasileira, segundo pesquisa divulgada no Summit Mobilidade Urbana 2019, em São Paulo. Além disso, o estudo mostrou que o brasileiro gasta, em média, 1h20 por dia para se deslocar para as atividades principais. Esse número pode chegar a 2h07 para que se cumpram todos os deslocamentos diários, o que resulta em 32 dias gastos por ano no trânsito. Ou seja, um mês perdido em engarrafamentos. A mobilidade urbana é realmente um dos maiores problemas do Brasil e afeta, inclusive, a democratização do uso de espaços e o acesso a oportunidades. Um problema de longa data que não vislumbra solução em um curto ou médio prazo.

Mobilidade urbana é um tema constantemente discutido no Brasil. A maioria das grandes cidades sofre com graves problemas de transporte e enfrentam desafios em promover meios de diminuir o impacto do trânsito no dia a dia da população. Uma das causas do aumento de engarrafamentos é bem óbvia: temos mais carros nas ruas. Governos passados investiram no desenvolvimento da indústria automobilística, facilitando o acesso a veículos particulares, o que deixou as vias públicas sobrecarregadas. Na contramão, não houve – e continua sem haver – programas de incentivo ao transporte público, coletivo, mais econômico.

Para explicitar o contrassenso, basta ver diversas cidades pelo mundo em que o transporte público é prioridade, os ônibus e metrôs são de boa qualidade e as pessoas se locomovem com facilidade; enquanto aqui, pelo contrário, os coletivos têm o estigma de serem transportes para as faixas mais baixas da sociedade. Também pudera: infraestrutura inadequada, veículos velhos, malha de atendimento ainda restrita, tudo isso dificulta o uso desses modais como prioridade pela população. Grande parte dessa realidade vem da falta de interesse governamental em estabelecer programas de desenvolvimento que contemplem a mobilidade urbana sustentável.

Um bom sistema de mobilidade urbana também tem seu viés de democratização do espaço público. O modelo centro-periferia que predomina no Brasil dificulta a vida dos que vivem nas áreas mais distantes, e isto somado à falta de uma infraestrutura de transporte reforça a segregação social. O bem-estar e a qualidade de vida também são muito influenciados pelo trânsito. Essa é uma problemática que não passa apenas pela mobilidade, mas pela própria ocupação do espaço urbano

De acordo com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), dos 5.570 municípios do Brasil, apenas 52% possuem serviços de transporte urbano. Além disso, muitas cidades não possuem plano de mobilidade urbana. Com a população crescendo, cresce também a demanda por transporte. Como equacionar essa conta, se muitas cidades não têm mais para onde se expandir, e resta colocar mais carros nas mesmas ruas de dez anos atrás? A resposta, sem dúvida, passa pelo investimento forte e comprometido em um sistema de mobilidade que contemple todas as camadas da população. O problema é que essa mudança só pode ser feita a longo prazo, o que não parece interessar a governantes que só passam quatro anos no poder. Enquanto isso, seguimos engarrafados.



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