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Edson, o luminar do magistério pianístico

Andréia da Costa Carvalho
Pianista e professora

Publicado em: 17/10/2019 03:00 Atualizado em: 17/10/2019 08:46

Em colóquio silencioso com as coisas do passado, caminhava eu, lenta e tristemente pela Rua das Graças, rumo à sua Matriz, na quinta-feira, para uma missa de Sétimo Dia. Esses últimos acontecimentos me machucaram fortemente a alma, pois, de mim, arrebatou um amigo, um orientador, um artista, o meu professor. Apesar da dor que me fustiga o espírito, fui impactada positivamente, ao adentrar o templo santo de Nossa Senhora das Graças. Ei-la ali, no altar, soberana, absoluta, com vestes reluzentes como o ouro de Ofir, com braços e mãos espalmadas, acolhendo indistintamente seus filhos aflitos e inconsoláveis.

Hortênsias azuis, lírios e rosas brancas adornavam primorosamente a divisória, em madeira, que impõe separação entre os fiéis e o altar-mor. Essa atmosfera mística me comoveu e, nesse instante, compreendi que todos, ali presentes, se tornavam unidade, vez que o sofrimento da perda e o vazio atroz clamam por um colo de uma Mãe Magna, meiga e amorosa. A Ela, portanto, entregamos nosso ramalhete de saudade e dor.

Voltando a falar sobre a figura do professor Edson Bandeira de Mello, devo dizer que esse ensinava música, a linguagem sonora por excelência, usando sua mente fulgurante, além de seus dedos ágeis, para o ensino do piano. De temperamento reservado e muito discreto, escondia em sua terna sensibilidade de pensador, uma extraordinária vocação de mestre, desses que conduzem o alunado com suave deslumbramento, levando cada um desses a encontrar suas próprias verdades.

O professor Edson era incansável, além de um obstinado na arte de educar musicalmente. A mim, pessoalmente, jamais concedeu férias e, quando menos esperava, lá estava ele, na casa de meus pais, em Olinda, em tempos distantes, disposto e vibrante, para o ensino lúcido de particularidades da arte pianística. Ufa! Tempos bons e raros!

Dedicou sua vida, também, ao Departamento de Música da Universidade Federal de Pernambuco, que mais parecia seu segundo lar, havendo, ali, desempenhado papel relevante e dinâmico, na qualidade de chefe e administrador. Todos sentiam, de modo sutil e quase oculto, a presença do pulso firme do prof. Edson, um chefe que não transigia, que não barganhava e que, sobretudo, não se acomodava diante da grande luta da qual foi pioneiro, como fundador do Curso de Música, na cidade do Recife. As artes não têm idade, o bom exemplo não envelhece, nem, tampouco, se apaga com o decorrer do tempo. Ao contrário, em algumas circunstâncias, esse, até, se engrandece, através do silêncio, quase sagrado, que se revigora na medida que se projeta para o futuro.

Portanto, Pernambuco e o mundo pianístico estão de luto e, em tonalidade menor, num ostinato intermitente, erguem, timidamente suas vozes, e dizem: Honra ao mérito! Obrigado, professor Edson, pelo legado sublime que nos deixou.

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