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É preciso rever conceitos na organização do futebol brasileiro

Alfredo Bertini
Economista e desportista

Publicado em: 25/10/2019 03:00 Atualizado em: 25/10/2019 09:14

Essa conversa de torcedor acreditar no futebol brasileiro é para lá de conversa fiada. Bem ao estilo do que fazem os programas esportivos de TV, que são a eminência parda do globalismo. Fazem de tudo para que a paixão clubística seja um fenômeno nacional e com isso se percam as identidades locais e regionais.

O futebol hoje está muito diferente de duas a três décadas atrás. O poder econômico estabelecido pelas cotas de TV e os grandes patrocínios diferenciam o mercado. As ações tansformam-no  em um oligopólio brutal, com a assinatura  da CBF e da TV. Nos últimos anos, as composições finais das tabelas de classificação, a partir de certo ponto de corte, exprimem que a maioria dos clubes está nivelada - e por baixo. No geral, sem contar com eventuais presenças de clubes mais contemplados com as verbas, na faixa do baixo claro, o que se percebe nos últimos anos é um nivelamento técnico que vai da faixa do sexto colocado da A até o décimo/décimo-terceiro da B.

O que quero dizer com isso? Simples: tanto faz ter hoje Fortaleza, Ceará, CSA, Avai, Chapecoense e até Bahia e Goiás na A, como ter Sport, Coritiba, América/MG, Ponte Preta, Atlético/GO e Paraná (todos estavan na A recentemente) numa série B. O Bragantino neste ano é um caso à parte, mas que comprova a alta correlação entre investimentos, gestão e resultados. De qualquer forma, é um ponto fora da curva da visão global, mas que tem lá sua explicação. A força econômica, embora em dimensão ainda moderada, explica o sucesso por enquanto restrito a um possível acesso à serie A.

Portanto, sem essa de que, para a maioria dos clubes, a Série A ou B são fáceis. Já que para os fora do eixo o dinheiro obtido é muito abaixo dos “queridinhos” da mídia e da CBF,  se não tiver  o mínimo de planejamento e gestão, o “sobe e desce” pode ser encarado como um fato natural. O único exemplo de “fora do eixo” que quebrou essa tendência, justo porque se organizou para isso, foi o Atlético/PR. Aliás, um trabalho de anos que foi promovido por esse clube, num plano estratégico de buscar conquistas nacionais e internacionais. E que só agora parece colher alguns resultados.

Querem saber de mais um prova final que comprova a asfixia econômica e técnica da maioria dos clubes? Basta observarem que essa tendência CONCENTRADORA do poder econômico se propagou até para a Copa do Brasil. As regras atuais, que põem na fase final, exatamente para disputar os fartos recursos, os clubes que sobraram da Libertadores, é a prova cabal da “elitização” do futebol brasileiro. Sabe qual a probabilidade de um “fora do eixo” ganhar uma Copa do Brasil hoje?  É um percentual praticanente desprezível. O negócio parece mesmo ser uma opção pela concentração, pela falta de competitividade e pelo anti-regionalismo.

Por essas e outras, sem o estimulo aos dignos valores esportivos da competição, o futebol brasileiro só decepciona. Mais cedo ou mais tarde, todos serão adeptos de meia dúzia de clubes, que exercerão uma cultura nacional, global, configurando-se daí mais um efeito devastador sobre as identidades culturais locais.

Defender uma revisão desses conceitos é salvar muitos clubes de tradição e ordem de grandeza (mesmo regional). É também fazer prevalecer a identidade cultural como um impirtante valor da formação histórica desta imensa nação.

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