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Editorial Prudência não é subserviência

Publicado em: 23/09/2019 08:58 Atualizado em:

As queimadas que se espalham pelo país, sobretudo na Região Amazônica são uma bagagem pesada para o presidente Jair Bolsonaro que, amanhã, abrirá a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York. As mudanças climáticas e o que as nações devem fazer para conter o aquecimento global em 1,5º são temas do encontro. A Floresta Amazônica é tida como uma joia rara pelos países desenvolvidos e patrimônio intocável no entendimento dos ambientalistas nacionais e estrangeiros, pela sua relevante capacidade de absorver o dióxido de carbono, o maior vilão do aquecimento global.

O avanço do fogo, na maioria dos casos por ação criminosa, sem que o governo tomasse as providências indispensáveis para conter a tragédia, mereceu uma reação inédita do G7 — grupo que reúne as sete nações mais industrializadas do planeta —, capitaneada pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Embora contrária à aplicação de sanções ao Brasil, a maioria do grupo fez coro em defesa da Amazônia. A atitude do francês foi gatilho para uma crise diplomática ainda não resolvida e chegou a ameaçar o Acordo de Livre-Comércio entre Mercosul e União Europeia, que consumiu 20 anos de negociações.

Para os sul-americanos, o acordo de livre-comércio é tido como um dos mais importantes, diante da crise econômica que assola a região, sobretudo Brasil e Argentina, as duas maiores economias da América do Sul, além do Paraguai e Uruguai. O Ministério da Economia, avalia que o tratado poderá, em 15 anos, representar um incremento entre US$ 87,5 bilhões e US$ 125 bilhões no Produto Interno Brasileiro (PIB) brasileiro.

O presidente defende a soberania nacional sobre a região — algo indiscutível, a Amazônia é nossa. Mas ele se esquece que economia e meio ambiente se tornaram irmãos siameses ante os fenômenos climáticos que vêm solapando a Terra, com intensidade cada vez maior. As nações mais desenvolvidas, entre as 195 que subscreveram o Acordo de Paris, em 2016, inclusive a China, tida como uma das maiores poluidoras, estão revendo o modelo de produção industrial e migrando para sistemas sustentáveis, ou seja, buscam diminuir as emissões de carbono e agredir menos o patrimônio natural.

O tom da política ambiental segue caminho inverso: reduzir áreas preservadas e de proteção ambiental e também os territórios indígenas em favor da mineração e da expansão da agropecuária — atividades altamente predatórias. O país dispõe de tecnologias para aumento da produtividade, sem a necessidade de abertura de novas fronteira para a agricultura e a pecuária, graças ao trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cujos estudos são reconhecidos e paradigmáticos para muitas nações que a procuram em busca de tecnologias.

Portanto, o presidente precisa cativar parceiros comerciais e investidores estrangeiros para superar as adversidades locais que se arrastam desde 2014 e tem como lastro 13 milhões de desempregados. Só as reformas em curso são insuficientes para conquistar credibilidade e garantir aos produtos brasileiros o selo verde necessário ao ingresso deles nos mercados mundiais. A realidade nacional impõe ao presidente prudência, o que não significa subserviência às demais nações.

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