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O que está por detrás do ódio (mascarado por desdéns) a Brigitte Macron?

Andrea Campos
Professora de Direito da Unicap

Publicado em: 24/09/2019 03:00 Atualizado em: 24/09/2019 09:22

Historicamente, o exercício da sexualidade feminina foi restrito as suas funções procriadoras. Esse exercício teria o seu permissivo em razão da principal, senão única, função social da mulher: a função biológica de gerar novos cidadãos, novos soldados e contribuir para o incremento populacional. As mulheres, porventura geradas, perpetuariam sine die esse milenar encargo imposto ao feminino. E na execução desse encargo, adstrito ao espaço do sagrado matrimônio, estaria afastada inelutavelmente a possibilidade de desfrutar do prazer sexual. Este era medonho e ameaçador, uma vez que uma mulher que experimentasse do prazer da carne estaria fora de controle do modelo instituído e dos perímetros do território de subjugação. Para tanto, as mulheres foram divididas em “santas” e “putas”, as primeiras, as sagradas e impolutas mães, as segundas, às quais era permitido o gozo, as necessariamente abortadoras e inférteis. Sabe-se que a idade reprodutiva da mulher, considerada ideal para a procriação, está entre os 20 e os 35 anos. Não que não haja mulheres nessa faixa etária que apresente problemas em seu aparelho reprodutor, mas, no geral, é o momento biológico mais propício para uma reprodução natural da espécie. Portanto, nesse período é “permitido” à mulher, o exercício de sua sexualidade, uma vez que uma gravidez sempre será uma possibilidade. Para tanto, permite-se, também, à mulher, ser sedutora, vaidosa, manter a “boa” forma e esbanjar sensualidade, afinal, tudo isto está a serviço do bem primacial: seduzir o “macho” humano com vistas à multiplicação da espécie. Este também deverá estar condicionado a desejar as mulheres “procriáveis”, uma vez que a sua função primacial também é a de reproduzir a espécie humana e de prover a prole. Um homem que escapasse à essa função como determinante de seu desejo, também seria execrado, expurgado e alvo do estranhamento social (os Balzacs que o digam...rs). Vencida a fase da reprodução natural, em torno dos 40 anos, à mulher passava a ser vedado o exercício da sexualidade, uma vez que esta teria por finalidade tão somente o prazer, não mais a reprodução. Seria o sexo pelo sexo, a carne pela carne. Logo, a partir dessa idade, não mais seria facultado à mulher ser sedutora e esbanjar sex appeal. Deveria a mulher recolher-se sob uma invisível e ao mesmo tempo, visível, burca social. A partir desse ponto, poderemos compreender melhor o caso “Brigitte Macron”. Brigitte é uma mulher de mais de 60 anos, quase 70. Que se deu o direito de continuar a cuidar do corpo e a ser saudável e a ser esbelta (em uma forma física invejável para muitas das mais jovens), cabelos brilhantes e dentes brancos. Uma mulher com quase 70 anos e, muito provavelmente, sexualmente ativa. Ativíssima é o que parece e sem qualquer possibilidade, atualmente, de ser uma procriadora. O seu marido, ao refugir ao modelo secularmente estabelecido, também é um transgressor sexual, uma vez que preferiu estar com essa mulher que o encanta e seduz a exercer a sua função de reprodutor. E essa sua escolha ainda constitui tanto um tabu que chega a ser preferível pensar que assim o faz por ser “gay”. Esse, também, um tabu, mas um tabu menor do que sentir desejo luxurioso por uma mulher 24 anos mais velha com a qual se vive em lubricidade. Ambos gozam por gozar. Seus encontros físicos são determinados a serem pura lascívia sem a purificação de uma eventual gravidez. Brigitte ainda peca mais, pois goza diuturnamente na alcova do poder, no posto máximo de uma República! E pior: “Pegando” um “rapazinho”! Isso não tem perdão! É inescusável! E o grande terror para os homens que convulsionam diante da ideia de suas mulheres já maduras terem sexo com homens mais jovens, mais viris e mais potentes! Sentindo-se ameaçados com esse tipo de comportamento, vingam-se chamando-a de “feia”, quando não, revelam a raiz de seus ódios difamando-a de “pedófila”. Já pra fogueira, Brigitte, sua pecadora.

E mais: Caras “Brigittes”, vocês não precisam pedir desculpas.

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