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Ditos e feitos

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE

Publicado em: 26/09/2019 03:00 Atualizado em: 26/09/2019 09:29

É claro que o próprio Bolsonaro fala demais, sem medir o que está dizendo, sem a moderação e a circunspecção com que deveria falar um presidente. Algumas coisas são engraçadas e divertem, inclusive pelo pavor que suscitam em certos setores; mas, sem dúvida, muitas deveriam ter sido evitadas, coisas que um homem público mais prudente não se permitiria dizer nunca. São as fraquezas do presidente – suas deficiências, seus defeitos. Em seu favor pode-se dizer que é extremamente sincero, não mente, não esconde o pensamento. Sabe-se exatamente o que ele pensa – correta ou exageradamente que seja. Não é, de modo algum, o tipo comum de político, que diz somente o que a plateia quer ouvir, camufla as intenções, enrola e promete o que nem pode nem quer cumprir. Mas, que fala muito, e várias vezes diz absurdos, diz.

Por que não avaliar também tudo de bom que fez e vem fazendo? Nem inventariemos realizações pontuais, materiais, econômicas. Basta pensar na orientação geral do seu governo. Será pouca coisa termos uma administração em cuja austeridade se pode confiar? Um governo que claramente não está fazendo negociatas, não está vendendo cargos nem instituições, não está desviando verbas, não se está locupletando de dinheiros públicos, não se está corrompendo, nem patrocinando corrupção? Que não negociou ministérios e não faz barganhas para conseguir votos no Congresso? E que reduziu de verdade a montanha de cargos comissionados? E não faz nomeações segundo indicações meramente políticas? E que, por sua simples atuação honesta, realiza monumentais economias, pelo desperdício e pela corrupção que evita?

E que quer investigar os desmandos que pululavam em certas partes da administração? Quer abrir as caixas pretas, quer apurar os duvidosos investimentos patrocinados pelo BNDES no exterior (melhor: em certos e específicos lugares do exterior), quer fazer auditorias no INSS, quer rever suspeitas pensões milionárias? E que nos libertou de uma política externa vergonhosa, que primava pela cumplicidade com governos totalitários farsantes e deformados, que asfixiam e maltratam seus povos magníficos, como Cuba, Venezuela, Bolívia?

É pouco termos um governo com a coragem de desmontar mil Conselhos inúteis, repletos de cargos aparelhados, com evidente infiltração ideológica, e denunciar a deformação absurda que essas Organizações ditas da “sociedade civil” significam, as quais se apresentam como dignas representantes do povo, quando os únicos legítimos representantes do povo são os governantes e os parlamentares eleitos?

E um governo que abandonou a pauta da perversão e de dissolução dos costumes que ia (ou vai) acabando a família e a moral? Pode ser que Bolsonaro não consiga superá-la completamente (afinal, estamos num fim de civilização), mas só a certeza de que o governo não a favorecerá e não a patrocinará já é formidável.

Um governo que mexe em tantos vespeiros, que tem o ânimo de enfrentar tantos feudos da esquerda,– é óbvio que iria suscitar mais do que reações: protestos e ressentimentos; e mais do que protestos: ódios, e ódios mortais. Mas, considerando o conjunto das debilidades e dos méritos, estes são infinitamente maiores. Importante é o sentido geral do governo. Por que alguns, pretendendo ser inteligentes (e só se imaginam inteligentes se a esquerda os aplaudir...), não querem enxergar esses méritos?

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