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Dia Internacional da Limpeza

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 24/09/2019 03:00 Atualizado em: 24/09/2019 09:20

Tem dia que a gente gostaria de falar sobre coisas lindas, e quando liga a TV, topa com  imagens de barcos perdidos no Mediterrâneo, mais que carregados de gente desesperançada e mesmo assim “esperando contra toda esperança”, como dizia Dom Helder. Ou com bombardeios, matanças, na Síria, na Afegão, rostos de crianças que não entendem a maldade dos adultos. Ou com Ágatha, menininha de oito anos morta por tiro nas costas, em favela do Rio, que já foi cidade maravilhosa: um golpe de punhal no coração de quem ainda não perdeu a capacidade de se indignar, que os céus nos protejam, dizia uma antiga canção de Joan Baez. Há visões de geleiras derretendo no polo norte. Ou floresta queimando, e o fogo chega até o coração, sem que nada justifique a devastação do que era belo e verde, das centenas, milhares de animais mortos, de desertificação do solo que levará anos, para se recuperar. “É o fim do mundo”, afirma minha ajudante de ordens, e cita o Apocalipse, o do apóstolo S. João e não aquele do Apocalipse Now, o filme de Francis Copola, de 1979. E as notícias boas?, perguntará meu leitor. Há sim, algumas, e nos últimos dias foram várias. O rosto da pequena Greta, fazendo despertar multidões em muitos lugares do mundo, falando na ONU, reunindo pessoas de todas as idades, protestando contra nossa inconsciência ecológica, it is still time brothers. Grupos de escolares aqui mesmo no Recife, plantando árvores. A horta já verdinha dos estudantes da Escola de Referência Padre Nércio, perto de Linha do Tiro, e que também plantaram árvores frutíferas e ornamentais, no terreno da escola. Aquele pessoal em Olinda, transformando em pequeno jardim o que era um monturo.  A menina organizando uma lojinha de roupa e brinquedos sem uso, para crianças necessitadas. A transcrição e a resposta da carta que o presidente François Hollande enviou a outra menina, daqui do Recife, se não me engano, ante o pedido em dinheiro mesmo, para uma escola pobre. Centenas de pessoas limpando as praias, em nossas praias e em outros países. Gotas d’agua no tsunami de desastres caindo sobre nós. Mesmo assim, pequenas luzes brilhando, aqui e ali, como o sorriso daquela menininha africana, restabelecida de doença grave pela ação dos Médicos sem Fronteiras. O Dia Internacional da Limpeza, comemorado semana passada, toca nossa indiferença, nossa má-fé. Ou deveria tocar. Bom mesmo seria uma limpeza nas almas, nos corações que espalham ódio nas redes, e no país, em declarações diversas, que os jornais retransmitem, como se todos fôssemos inimigos potenciais. Nós que um dia fomos chamados de povo cordial. 

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