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Fernando Santa Cruz, presente!

Carlos André Silva de Moura
Docente do Curso de História da Universidade de Pernambuco

Publicado em: 07/08/2019 03:00 Atualizado em: 07/08/2019 06:42

A desastrosa declaração do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, em relação ao pai do Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, Felipe Santa Cruz, é no mínimo vergonhosa para qualquer indivíduo que tenha compromisso com os direitos humanos e a democracia. O ato do atual chefe do executivo não é condizente com o cargo que ocupa, como um dirigente político que deve zelar pela harmonia entre o poder público e as organizações civis.

Fernando Santa Cruz fez parte do movimento estudantil, junto com tantos outros brasileiros que lutavam pelo fim do regime civil-militar no Brasil (1964 – 1985), preso, torturado e assassinado pelos representantes do governo. O pernambucano nunca teve o corpo encontrado e é tido como um desaparecido político, a exemplo de Stuart Edgar Angel (1971), Abílio Clemente Filho (1971) Dermeval da Silva Pereira (1974) e vários outros nomes.

As declarações do presidente ferem a memória de várias famílias, especialmente, de Dona Elzita Santa Cruz, que aos 105 anos faleceu sem ter o direito de enterrar e render as últimas homenagens ao seu filho. No entanto, Bolsonaro também vai de encontro àqueles que defendem a democracia, a liberdade e são contrários a qualquer tipo de atrocidade, como as torturas e os assassinatos cometidos durante o regime ditatorial.

Não é a primeira vez que o atual chefe do executivo toca em feridas ainda não cicatrizadas em nosso país. O presidente já defendeu a tortura, homenageou torturadores e agora zomba da dor e da memória de um filho que perdeu o pai antes dos 2 anos de idade. As suas práticas colaboram para não superarmos traumas tão recentes e, infelizmente, tão atuais em nosso cotidiano. Aqueles que defendem tais discursos são do mesmo modo desumanos, frívolos e arbitrários.

O evento desta semana extrapola a disputa política, as querelas entre a esquerda e a direita e deixa de ser um posicionamento partidário. Não estamos na guerra fria, momento da história em que, talvez, os opositores discutissem como maior honradez. O presidente ultrapassou todos os limites de humanidade que poderia se esperar da sua figura pública.

É preciso uma reação urgente dos órgãos nacionais e internacionais, que cobrem explicações e, se necessário, exijam uma punição ao presidente, independente do cargo que ocupe, para que aquele que deve zelar pela estabilidade da memória do país não seja o primeiro a manchar de sangue e reacender uma vergonhosa lembrança da nossa história.

Contraditoriamente, a declaração de Jair Bolsonaro tornou a História de Fernando Santa Cruz maior, uma vez que reacendeu a busca pela justiça e a garantia dos direitos coletivos. O jovem estudante de Olinda não escolheu o lado fácil da História, não se escondeu atrás da violência, da arbitrariedade e da truculência. Se hoje vivemos em democracia, se temos a liberdade de imprensa, os direitos legais garantidos e a possibilidade do contraditório, devemos muito a indivíduos como Fernando. Por este motivo, Fernando Santa Cruz, sempre presente!!!!

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