Diario de Pernambuco
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Eleições e significados em disputa

Ignacio Pirotta
Cientista e consultor político

Publicado em: 08/08/2019 03:00 Atualizado em: 08/08/2019 10:16

Um raro fenômeno tem se dado na política pernambucana. Os três nomes de possíveis pré-candidatos para a Prefeitura de Recife da esquerda não passam dos 35 anos de idade: Marília Arraes (PT, 35 anos), João Campos (PSB, 25 anos) e Túlio Gadêlha (PDT, 31). Ainda falta tempo para definir os candidatos e provavelmente seja casualidade que tantos políticos jovens coincidam numa eleição para prefeito, se é que finalmente coincidem. Mas mesmo assim, o fenômeno serve para refletir respeito ao cenário da política e da opinião pública em face às eleições de 2020.

As eleições de 2018 foram marcadas pela onda da direita e a crítica à chamada velha política. O grande diferencial de Bolsonaro nas eleições foi saber representar o sentimento antipartidário, a indignação contra a corrupção, e de maneira geral um conjunto de ideias anti- establishment próprias de um momento determinado da história brasileira. A chamada “nova política” de Bolsonaro ainda não tem forma, não tem sido definida. Mas sabemos o que ela não é. A não continuidade do presidencialismo de coalizão é o resultado mais palpável para o sistema político de todo este proceso. Muitos brasileiros escolheram Bolsonaro para atacar a política tradicional, para enfrentar a corrupção. Sem coalizão e por momentos com retórica de ataque, principalmente contra o Congresso, Bolsonaro consegue instalar a ideia de uma nova forma de fazer política para aqueles que o escolheram em função disso.

Se focamos no Nordeste e em especial em Pernambuco é provável que a maioria daqueles que enxergam uma melhora no sentido de menos corrupção sejam votantes de Bolsonaro. Votantes diferentes aos da esquerda. Também é verdade que Bolsonaro não vem se dando bem com o Nordeste e que tem na região os piores índices de aprovação. O prematuro posicionamento abertamente opositor dos governadores do Nordeste (convidados a esse posicionamento pelo próprio Bolsonaro) teria benefício eleitoral se as eleições fossem hoje. Mas ainda falta tempo. O que é evidente é que nestes oito meses Bolsonaro perdeu a chance de ser o grande líder da direita brasileira, o líder da onda da direita que o colocou no poder. Esta encontra-se hoje dividida entre os moderados e o bolsonarismo, o que é um dos principais fatos do mapa político na era Bolsonaro.

Porém, com as eleições municipais de 2020 já no horizonte, tanto a onda da direita quanto sua cisão terão efeitos e alcances diferentes em cada região. As eleições podem expor as diferenças entre distintos setores da direita com intenção de chegar ao poder em 2022, ou ser uma possibilidade para estratégias de alianças.  

No Nordeste, o domínio da esquerda sem dúvidas enfrentará uma espécie de remake do discurso de renovação política, com a corrupção como issue recorrente e o apelo à necessidade de alternância no poder. Em Pernambuco esse discurso já começou a ser esboçado por forças da oposição.

Se a cisão da direita brasileira dificulta candidaturas unificadas, eventuais segundos turnos podem ajudar a unir forças. Nesse movimento para bater governistas a remake da onda antipolítica terá centralidade. Se a onda da direita não chega no Nordeste com suficiente força, ninguém pode se iludir a respeito dos efeitos da crise política. As candidaturas terão novos ou velhos rostos, de direita, de esquerda ou de centro. Mas com certeza os significados de que é “nova política” ou de que é a “boa política” estarão em disputa e serão chaves nas próximas eleições. Na verdade, neste momento disruptivo da política brasileira, esses significados já estão em disputa.

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