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A atitude do governo sobre o meio ambiente diminui o prestígio do Brasil

Maurício Rands
Advogado formado pela FDR da UFPE, PhD pela Universidade Oxford

Publicado em: 05/08/2019 03:00 Atualizado em: 05/08/2019 10:18

O Brasil tem uma vocação para angariar a simpatia internacional. Pela espontaneidade, resiliência e capacidade de inovação do nosso povo. Por suas belezas naturais. Pela diversidade cultural de um povo miscigenado capaz de fazer maravilhas na música, no cinema, nos esportes e em todas as artes. Por uma tradição de política externa equilibrada. Temos um potencial soft power que pode alavancar nosso desenvolvimento. Se bem utilizado.

Mas que ultimamente tem sido desperdiçado. A queda da nossa imagem no exterior tem sido vertiginosa. A corrupção dos governos do PT revelada pela Lava-Jato. A prisão dos ex-presidentes da República Lula e Temer. A exportação da corrupção das grandes empreiteiras para a América Latina e a África. O impeachment por tecnicalidades. A versão tupiniquim do populismo de direita à moda Trump e a política externa tosca de subserviência à agenda do combate a fantasmas como ‘globalismo e marxismo cultural’. A violência que atinge o próprio povo e os turistas. A burocracia, a insegurança jurídica e o péssimo ambiente para investimentos. Tudo isso já diminuiu muito nossa imagem no mundo

Agora, a questão ambiental joga mais lenha nessa fogueira. Logo no início, o novo governo ameaçou sair do Acordo de Paris. O recuo não apagou o desgaste. Depois, tentou transferir a demarcação de terras indígenas para o Ministério da Agricultura dominado por forças propícias a aumentar a mineração e o desmatamento. Mesmo contra a opinião de 86% de pesquisados pelo Datafolha. Nisso, o governo foi derrotado pelo Congresso e pelo STF, em exercício dos checks & balances idealizados pelos founding fathers americanos. As declarações de Bolsonaro sobre o meio ambiente revelam desconhecimento e pela ciência. Seu desejo de transformar reservas ecológicas como as de Angra em uma nova Cancun revelam a um só tempo mau gosto e insensibilidade ambiental.

No tema, a última pérola presidencial foi a exoneração de Ricardo Galvão da diretoria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Equivalente ao ato do rei que manda matar o mensageiro de uma notícia do seu desagrado. O Inpe havia apontado aumento do desmatamento. O presidente Bolsonaro, ao invés de tomar medidas para diminuí-lo, condenou a pesquisa e demitiu o diretor que a defendera.

O responsável por tanto desgaste do Brasil na questão ambiental é o presidente, que deveria ser contido pelos seus próximos. Para que não continue a inspirar o sarcasmo da nossa gente. Como fez na última 6ª feira o grande compositor pernambucano Getúlio Cavalcanti. Chamado por André Rio para subir ao palco do Teatro Santa Isabel, ele não se conteve ao apelidar de ‘Bolsonaro’ a sua gripe: ‘a cada meia hora, um espirro fedorento’. Ficasse nos limites da irreverência interna da nossa gente, meno male. O problema é que as posições ambientais do presidente fizeram soar um alarme internacional por conta da nossa responsabilidade com a Amazônia. A revista The Economist, leitura obrigatória dos tomadores de decisões mundiais, acaba de dedicar sua capa ao crescimento do desmatamento da nossa floresta. Identifica no atual governo brasileiro uma ameaça ao meio ambiente global, que interessa a todos. Aponta Bolsonaro como o grande responsável pelo atual desmatamento da Amazônia a um ritmo de ‘duas Manhattans por semana’.

Alerta para o mal em si que resulta dessas políticas: perda da biodiversidade e retrocesso ambiental em toda a região. Mas também para os prejuízos ao desenvolvimento brasileiro diante do potencial boicote internacional aos produtos da nossa agropecuária. A revista lembra ainda que, se essas atitudes de Bolsonaro não forem revertidas, podem refluir os recursos internacionais para nos ajudar a preservar a floresta. Tudo isso aumenta o desprestígio do Brasil. Que já vinha crescendo muito por causa da questão da corrupção.

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