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República hackeada: perguntas ainda sem respostas

Publicado em: 29/07/2019 03:00 Atualizado em:

Quando vieram à luz as mensagens hackeadas do celular do ministro da Justiça e de membros da Lava-Jato, pensou-se que o alvo dos bandidos seria desqualificar o trabalho da força-tarefa e, com isso, abrir brechas para anular julgamentos que levaram para a cadeia pesos-pesados da política e do empresariado brasileiros. Mas a prisão de quatro bandidos eletrônicos mostrou abrangência bem maior do que se pensava na ação criminosa do grupo paulista.
Perto de mil pessoas tiveram a privacidade invadida. Entre elas, altas autoridades dos Três Poderes e do Ministério Público — o chefe do Executivo, os presidentes do Senado e da Câmara, ministros do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça e a procuradora-geral da República. A relação até agora divulgada é apenas a ponta do iceberg. Muitos nomes virão à tona à medida que as investigações avançarem.
A ousadia da ação e a estatura dos hackers — três deles com ficha criminal suja — levantam duas questões que precisam ser esclarecidas. Uma: eles agiram por conta própria? Planejaram roubar as informações para vendê-las a possíveis interessados? A outra: receberam encomenda e pagamento para obter dados capazes de implodir as instituições? Como o fizeram? Quem os contratou? Por quê?
Indícios permitem inferências. Gustavo Henrique Elias Santos e a mulher, Suelen Priscila, declararam renda de menos de R$ 3 mil cada um. Mas movimentaram a soma expressiva de R$ 627 mil em poucos meses — nos períodos de abril a junho de 2018 e de abril a junho de 2019. Desvendar a origem do dinheiro constituirá passo importante para descobrir se houve venda do material obtido por meio ilícito, quem o comprou e para quê.
Fato preocupante é a insegurança institucional brasileira. Mesmo depois de experiências nacionais e internacionais comprovarem as possibilidades de a tecnologia eletrônica invadir privacidades, normas de segurança são ignoradas por líderes do Executivo, Legislativo e Judiciário. Daí a desenvoltura com que hackers mergulharam em mensagens de autoridades e fizeram sabe-se lá o quê com elas. Nada impede que assuntos estratégicos tenham sido passados para a frente e caído em mãos indesejáveis — talvez perigosas.
Não está em questão a publicação dos documentos pelo site Intercept, jornais, revistas. A Constituição garante a liberdade de imprensa e de expressão. Está em questão, sim, o esclarecimento total do crime. A Polícia Federal tem quadros técnicos sofisticados, aptos a desvendar os pormenores do enredo. A punição dos envolvidos é o caminho para coibir aventureiros ou aprendizes de aventureiros.



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