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O Moro político

Ignacio Pirotta
Cientista político

Publicado em: 08/07/2019 03:00 Atualizado em: 08/07/2019 09:09

As conversas reveladas pelo site The Intercept marcam um ponto de inflexão na carreira de Sérgio Moro. Não porque o vazamento atinja sua imagem de maneira espectacular, se não porque ele sinaliza a mudança definitiva do Moro juiz ao político. O ministro chegou ao governo com um forte perfil técnico e afirmando que sonhava ser ministro do Supremo. Inclusive, Bolsonaro comentou a existência de um acordo nesse sentido. Entanto, a grande popularidade do ex juiz sempre gerou especulações de uma eventual candidatura em 2022.

Mesmo sem conhecer a totalidade do material em mãos do site The Intercept, nem tendo certeza da completa autenticidade, é possível afirmar que a aspiração de ser ministro do STF fica mais longe com tais revelações. A imagem de idoneidade para ocupar uma vaga no STF foi atingida. Segundo Atlas Político, a aprovação de Moro como ministro caiu de 61,5% para 50,4% entre maio e junho. Os brasileiros que acham justa a prisão de Lula caíram de 57,9%, para 49,9%. Porém, mesmo atingida, a popularidade de Moro é muito alta, e por conta da forte polarização ela não deve ficar muito mais baixa ainda com novas revelações. Assim, Moro continuará sendo a figura mais respeitada do anti-lulopetismo. Mais do que o próprio Bolsonaro.

Moro, tanto no Senado quanto na Câmara, fez papel de político mais do que nunca, defendendo a operação Lava Jato. O propósito de Moro como ministro da Justiça, segundo ele, é consolidar os avanços da Lava Jato na luta contra a corrupção. O coração desse projeto é o pacote anti-crime. O futuro de Moro e Bolsonaro está, por enquanto, estreitamente relacionado. Se Moro é a garantia da luta contra a corrupção e um  capital político importante para Bolsonaro, o futuro do ex juiz depende do sucesso, ao menos inicial, de Bolsonaro. Sobre todo, depende da aprovação do pacote anti-crime. O pacote, na sua vez, têm na falta de articulação com o Congresso um dos maiores desafios. Tudo é parte do clima político e social que deu origem ao governo de Bolsonaro: corrupção, crise de confiança nos representantes, crítica ao toma lá dá cá, anseios de uma nova forma de fazer política. Finalmente, falta de coalizão de governo.

No colo de Moro está ainda uma outra agenda, mais delicada. Além da luta contra a corrupção, a segurança pública foi um dos temas principais durante a campanha de 2018 e um diferencial de Bolsonaro. A gestão da segurança pública é uma arma de doble filo: pode dar bons créditos políticos, mas também está sempre na beira de novas crises e ao mesmo tempo o Governo Federal gera expectativas altas mas tem limitações próprias da organização federativa. Fonte de problemas também serão as investigações sobre o ministro do Turismo, o gabinete de Flávio Bolsonaro vinculado às milícias de Rio de Janeiro. As milícias em tanto problema da segurança pública não encarado pelo discurso do presidente da República, significam uma forte contradição na luta contra o crime organizado. Mas o maior problema talvez seja a falta de rumo do país e a estagnação da economia. O sucesso de Moro está vinculado ao do presidente, pelo menos por enquanto. E esses problemas da administração Bolsonaro podem facilmente atingir a Moro.

Faltando tanto tempo para 2022 é impossível saber qual será o futuro do ministro. O que é claro, é que com os fatos recentes esse futuro está mais longe do STF e mais perto da política. Aos poucos, Moro abandona o rosto sério de homem da Justiça. Com maior frequência, Sérgio Moro começa a mostrar o sorriso para as câmaras próprio do homem da política.

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