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Editorial Agrotóxicos: nova classificação

Publicado em: 25/07/2019 03:00 Atualizado em: 25/07/2019 11:00

Não é de hoje que os agrotóxicos figuram no centro das discussões sobre saúde alimentar. De um lado, estão os produtores rurais, que comparam o uso do defensivo ao consumo de remédios. A terra, como os homens, precisa de medicamentos para prevenir e combater doenças. Com o passar do tempo, ocorrem dois fenômenos. Um deles: o organismo pode se viciar e deixar de responder satisfatoriamente à droga. O outro: pesquisas promovem avanços que possibilitam o surgimento de novos produtos, mais eficazes e menos danosos.

Do outro lado, encontram-se ambientalistas e organizações não governamentais, que alertam para o uso abusivo e inadequado de fungicidas, herbicidas e inseticidas em determinados plantios. Os efeitos são dramáticos. Além de atingir pessoas e animais, eles podem penetrar no solo e contaminar os lençóis freáticos.

O Brasil, grande produtor agrícola planetário, é um dos maiores consumidores de agrotóxicos no mundo. Não por acaso recebe críticas internas e externas dos contrários à prática. A grita, proporcional ao tamanho da produção e do mercado ocupado por carnes, grãos e frutas brasileiras, alerta para a responsabilidade do país no cenário internacional.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pelo controle sanitário do setor, anunciou na terça-feira ter aprovado resolução que estabelece novas regras para classificar os agrotóxicos. A principal mudança reside nos critérios que levam produtos a entrar na relação dos “extremamente tóxicos” — o nível mais rígido de categorização, reservado aos capazes de matar se forem ingeridos, inalados ou entrem em contato com a pele.

Pelas regras anteriores, que abrangiam não só os potencialmente fatais, mas também os causadores de graves irritações aos olhos e à pele, cerca de 800 agrotóxicos estão enquadrados no nível mais elevado. Agora, estima-se que oscilem entre 300 e 400 substâncias. Criado em 1992, o GHS, como é conhecido o Sistema Global de Classificação Harmonizado, ora adotado, foi implantado, na totalidade, em 53 países. Entre eles, Argentina e União Europeia. Nos Estados Unidos, 12 estados o adotam.

O governo, para mudar de sistema, alega a necessidade de padronizar os critérios brasileiros com os internacionais. A iniciativa torna os procedimentos mais rápidos, baratos e desburocratizados. Por seu lado, os opositores afirmam que se trata de manobra destinada a afrouxar as regras de controle e, com isso, reduzir a segurança de consumidores e agricultores.

Impõe-se — para evitar mal-entendidos e propagandas contra o Brasil que tanto incomodam o Planalto e prejudicam a imagem do país — que se faça ampla campanha de esclarecimento sobre os defensivos usados pelo agronegócio. O segmento mais próspero e inovador da economia brasileira deverá apresentar fatos — com linguagem clara e objetiva. A informação cala inferências e julgamentos.

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