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Editorial Acordo comercial e desmatamento

Publicado em: 15/07/2019 03:00 Atualizado em: 15/07/2019 10:12

A revelação do crescimento de 60% no desmatamento da Floresta Amazônica em junho, em comparação com o mesmo período do ano passado, pegou de surpresa as autoridades brasileiras. Isso porque países da União Europeia (UE) ameaçam se opor ao acordo comercial firmado, recentemente, pelo bloco europeu e o Mercosul, o que está sendo considerado a maior realização do governo do presidente Jair Bolsonaro. Os europeus condicionaram a ratificação do pacto de trocas comerciais ao cumprimento de acordos internacionais de preservação do meio ambiente, como o Acordo de Paris, assinado em 2015, quando o Brasil se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030.

O festejado pacto com os países do velho continente pode tornar-se uma vitória de Pirro, caso se confirme a expectativa de que a destruição da Floresta Amazônica aumentará nos próximos meses. O período seco na região se aproxima e é justamente nessa época que se intensifica a exploração madeireira. Caso as previsões se confirmem, os ambientalistas da Europa terão poderosa arma para contestar o acordo entre o Mercosul e a UE, pois há uma cláusula que veta a comercialização de produtos originários de áreas desmatadas. Não se pode esquecer que a representação dos verdes no Parlamento Europeu cresceu e é lá que o pacto entre os dois blocos comerciais deve ser contestado com mais veemência.

Contra os números não há argumentos. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a floresta perdeu, no mês passado, 762,3 km2 de mata nativa, o equivalente a duas vezes a área de Belo Horizonte. Em junho de 2018, a destruição atingiu a marca dos 488,4 km2. Ambientalistas alertam que o desmatamento pode ser maior ainda, uma vez que o monitoramento detecta apenas grandes áreas e as não ocultas pelas nuvens. Mesmo assim, o levantamento do Inpe é considerado importante ferramenta para a fiscalização.

Os dados referem-se a desmatamentos com solo exposto, com vegetação remanescente e devastação causada pela mineração. Especialistas alertam que a tendência é de crescimento dessas áreas, sobretudo por causa do discurso oficial de combate à indústria da multa e contrário à destruição, pelos fiscais dos organismos ambientais governamentais, de equipamentos de desmatadores apreendidos nas operações de fiscalização. Na visão dos ambientalistas, isso acaba estimulando a ação de madeireiras ilegais.

Se realmente acontecer, entre alguns países europeus, oposição sistemática ao acordo por causa de questões ambientais, o Palácio do Planalto deveria mudar seu discurso e fechar o cerco às atividades dos devastadores. O primeiro alerta foi dado: os governos da Alemanha e da Noruega, países financiadores do Fundo Amazônia — iniciativa voltada para a proteção do bioma —, paralisaram o repasse de recursos. Inegável que a assinatura do acordo entre a UE e o Mercosul é um enorme avanço e grande ganho para o Brasil. No entanto, o incremento do desmatamento da Amazônia não pode virar instrumento de pressão para emperrar a ratificação desse vital pacto comercial.

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