GUERRA
União Europeia e ONU criticam operação israelense na Cisjordânia
O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou a perda de vidas, incluindo a de crianças, e apelou à cessação imediata destas operações
Por: Isabel Alvarez
Publicado em: 30/08/2024 14:00 | Atualizado em: 30/08/2024 14:26
Soldados israelenses operando em Jenin, na Cisjordânia ocupada (Foto: ISRAELI ARMY / AFP ) |
Nesta sexta-feira (30), pelo terceiro dia consecutivo, Israel continua a ampla operação militar na Cisjordânia ocupada, apesar dos apelos da Organização das Nações Unidas e sob as críticas da União Europeia (UE).
O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou a perda de vidas, incluindo a de crianças e apelou à cessação imediata destas operações. “A crescente resposta militar de Israel na Cisjordânia ocupada e as operações violam o direito internacional e representam um risco de agravar a situação, já considerada explosiva", diz o comunicado do órgão.
O chefe do gabinete dos Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, declarou que a violência entre as forças de segurança israelenses e os palestinos armados na Cisjordânia não constitui um conflito armado de acordo com o Direito Humanitário, pelo que o uso da força na região deve ser limitado a normas e padrões aplicáveis às operações de segurança. “A violação leva a execuções extrajudiciais e a outros assassinatos, assim como à destruição de casas e infraestruturas palestinas”, apontou.
Por outro lado, o chanceler israelense, Israel Katz, disse que a operação na Cisjordânia deve ser vista como uma “guerra em todos os sentidos”, o que inclui a “retirada temporária de civis palestinos”. Por sua vez, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, sugeriu que a UE deve sancionar os ministros israelenses que “lançam mensagens de ódio” aos palestinos.
A incursão chamada por Tel Aviv como “operação antiterrorista” levou à morte de um comandante da Jihad Islâmica, Muhammad Jaber (conhecido como Abu Shujaa) além de mais 16 palestinos. Segundo o comunicado de um porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), Jaber foi morto durante uma importante troca de tiros entre as forças israelenses e terroristas armados escondidos numa mesquita de Tulkarem. Já o governador de Tulkarem, Mustafa Taqatqa, negou a versão da IDF. “Um foguete foi disparado contra uma casa e os jovens não estavam na mesquita”, disse Taqatqa.
O exército israelense também reivindicou hoje a morte de Uasam Hazem, um alto dirigente do braço armado do Hamas em Jenin, na Cisjordânia.
Além disso, o Reino Unido, a França e a Espanha manifestaram hoje forte preocupação com o agravamento da violência e instabilidade na Cisjordânia após Israel lançar a operação militar no território ocupado palestino. “O Reino Unido está profundamente preocupado com os métodos usados pelo exército israelense na Cisjordânia e com as vítimas civis e a destruição de infraestruturas. O risco de instabilidade é grave e a necessidade de uma desescalada é urgente. O Reino Unido também condena veementemente a violência e comentários provocatórios, como os feitos pelo ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, que ameaçam o status quo dos locais sagrados de Jerusalém”, indicou um porta-voz Ministério das Relações Exteriores britânico.
Paris também condenou os comentários do ministro israelense. O governo francês expressou estar fortemente preocupado com as operações militares israelenses na Cisjordânia. “Estão agravando o clima de instabilidade e violência sem precedentes, levando a uma deterioração da situação em geral nos territórios palestinos”, declarou o Ministério das Relações Exteriores da França, que ainda reforçou a sua oposição aos assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada, que devem parar imediatamente. “E em Gaza, onde Israel está em guerra contra o Hamas, a intensidade dos ataques israelenses visando em particular escolas ou abrigos para pessoas deslocadas está a conduzir a um número inaceitável de vítimas civis. O imperativo de respeitar o direito internacional humanitário é vinculativo para todos, incluindo Israel”, acrescentou a diplomacia francesa, considerando inaceitáveis os ataques contra o pessoal humanitário.
O Ministério das Relações Exteriores da Espanha condenou as operações militares de Israel na Cisjordânia, que classificou como muito graves e que devem ser interrompidas.
"As declarações que questionam o estatuto jurídico dos locais sagrados de Jerusalém são inaceitáveis", afirmou o ministério espanhol em referencia aos comentários do ministro israelense Ben Gvir. A diplomacia espanhola apelou à legalidade internacional e ao direito humanitário, à contenção e à desescalada.
Já a porta-voz do gabinete dos Direitos Humanos das Nações Unidas, Ravina Shamdasani, questionou as táticas de guerra e os ataques aéreos usados por Tel Aviv e denunciou que muitas crianças morreram enquanto lançavam pedras contra militares israelenses muito protegidos. "É alarmante este uso desnecessário ou desproporcional de força e o aumento dos assassinatos seletivos e outras execuções sumárias", acrescentou.
Shamdasani ainda assinalou as detenções arbitrárias e tortura de milhares de palestinos, num contexto também marcado pelas restrições de movimentos, destruição de propriedades e a "implacável" violência dos colonos. "Israel, como potência ocupante, deve cumprir as suas obrigações", afirmou Shamdasani, que pediu investigações "completas" e "independentes" a qualquer possível caso de abuso na Cisjordânia.
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