GUERRA
ONU critica ação militar na Cisjordânia e alerta sobre escalada de tensão na região
Para Volker Turk, violência entre forças israelenses e palestinos armados na região não constitui um conflito armado de acordo com o Direito Humanitário
Por: Isabel Alvarez
Publicado em: 28/08/2024 15:16 | Atualizado em: 28/08/2024 15:24
Pessoas verificam os danos causados durante um ataque ao campo de Nur Shams, na Cisjordânia ocupada por Israel (Foto: JAAFAR ASHTIYEH / AFP ) |
A Organização das Nações Unidas criticou hoje a crescente resposta militar de Israel na Cisjordânia ocupada e alertou que as operações violam o direito internacional e representam um risco de agravar a situação, já considerada "explosiva".
O chefe do gabinete dos Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, declarou que a violência entre as forças de segurança israelenses e os palestinos armados na Cisjordânia não constitui um conflito armado de acordo com o Direito Humanitário, pelo que o uso da força na região deve ser limitado a normas e padrões aplicáveis às operações de segurança.
"O uso de bombardeios e outras armas e táticas militares pelas forças de segurança de Israel viola estas normas e leva a execuções extrajudiciais e a outros assassinatos, assim como à destruição de casas e infraestruturas palestinas", diz o comunicado do gabinete.
Turk reiterou que este acontecimento não é um incidente isolado, mas uma consequência direta da política de assentamentos de Israel na Cisjordânia ocupada, que representa uma violação dos Direitos Humanos e é acompanhada pela cumplicidade das forças de segurança de Israel.
O comunicado também expressa profunda preocupação com a rápida deterioração da situação na Cisjordânia e adverte que a operação pode piorar dramaticamente se as forças de segurança de Israel perpetrar sistematicamente a força letal e ignorar a violência praticada pelos colonos.
"O Gabinete dos Direitos Humanos da ONU apela a Israel para que cumpra as suas obrigações ao abrigo do direito internacional para colocar um fim ao projeto de assentamento ilegal, restaurar a ordem e proteger os palestinos, incluindo a retirada de todos os colonos, como foi reivindicado pelo Tribunal Pena Internacional", apontou Turk.
A porta-voz do gabinete, Ravina Shamdasani, também questionou as táticas de guerra e os ataques aéreos usados por Tel Aviv e denunciou que muitas crianças morreram enquanto lançavam pedras contra militares israelenses muito protegidos. "É alarmante este uso desnecessário ou desproporcional de força e o aumento dos assassinatos seletivos e outras execuções sumárias", acrescentou.
Shamdasani ainda assinalou as detenções arbitrárias e tortura de milhares de palestinos, num contexto também marcado pelas restrições de movimentos, destruição de propriedades e a "implacável" violência dos colonos. "Israel, como potência ocupante, deve cumprir as suas obrigações", afirmou Shamdasani, que pediu investigações "completas" e "independentes" a qualquer possível caso de abuso na Cisjordânia.
EUA aplicam novas sanções contra os colonos
Washington anunciou nesta quarta-feira novas sanções contra colonos israelenses na Cisjordânia, instando o governo israelense a conter os grupos extremistas que são acusados de alimentar a violência nos territórios ocupados na Palestina.
O anúncio surge no mesmo dia em que as Forças de Defesa de Israel lançou uma operação militar em grande escala no norte da Cisjordânia, reivindicando a morte de dez combatentes palestinos.
“A violência extremista dos colonos na Cisjordânia causa intenso sofrimento humano, prejudica a segurança de Israel e mina as perspectivas de paz e estabilidade na região. É essencial que o governo israelense responsabilize os indivíduos e entidades responsáveis pela violência contra civis na Cisjordânia", disse Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.
Miller informou que as novas sanções visam à organização não-governamental, Hashomer Yosh e os seus líderes, acusados de prestar apoio material ao assentamento de Meitarim, além de Levi Filant, coordenador de segurança do assentamento de Yitzhar. Ambos na Cisjordânia.
"Em fevereiro de 2024, Filant liderou um grupo de colonos armados que montaram bloqueios de estradas e realizaram patrulhas para perseguir e atacar palestinos nas suas terras e expulsá-los à força", diz a nota do Departamento de Estado norte-americano.
A Casa Banca já impôs diversas sanções contra colonos israelenses e manifestou a sua forte oposição a qualquer expansão dos assentamentos na Cisjordânia, apoiadas por membros da extrema-direita do Governo do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.
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