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Peru fechará novamente fronteiras, e brasileiros no país se desesperam

foto: Cris BOURONCLE / AFP

 

"Pessoal que está em Cusco, por favor, vão para a Plaza de Armas agora!", grita, nervosa, a voz feminina no áudio enviado em um dos grupos de WhastApp de turistas brasileiros no Peru. É a publicitária Lisiane Ferreira, 28, uma das pessoas que ficaram retidas no país desde que o presidente Martín Vizcarra anunciou o fechamento de fronteiras aéreas e terrestres no último domingo (15), para tentar conter o avanço do coronavírus.

 

Em um vídeo, ela chora: "A gente pede encarecidamente para as linhas aéreas, a embaixada e o governo que nos ajudem, que mandem aviões para cá para nos retirar daqui hoje. Por favor".

 

O governo peruano publicou na terça-feira (17) um decreto que permitia excepcionalmente a repatriação de estrangeiros no país e de peruanos no exterior. Desde então, o Itamaraty conseguiu que dois voos chegassem ao país com esse objetivo. Eles, porém, eram destinados apenas a passageiros que já eram clientes das companhias Latam e Gol.

 

Na noite de sexta (20), o ministro da Defesa peruano anunciou, em entrevista a uma TV local, que a partir de domingo (22) as fronteiras fecharão, inclusive para voos humanitários. Ou seja, este sábado (21) seria o último dia para retirar os estrangeiros do país durante a quarentena, que inicialmente é de 15 dias, mas pode ser prorrogada.

 

Brasileiros que ainda estão no país se desesperaram com a notícia. Há um voo previsto para sair em instantes levando pessoas que estão em Cusco, mas é só para passageiros da companhia Latam. Há 202 passageiros na lista, e o grupo estima que haja cerca de 400 brasileiros na cidade, no total -que é descrita como uma zona de guerra neste momento de quarentena.

 

Ainda assim, muitos que voaram por outras empresas foram até o aeroporto tentar a sorte, especialmente depois que souberam que nos voos de sexta-feira (20) houve pessoas que conseguiram embarcar por terem ido até a embaixada, mesmo sem estar nas listas de passageiros. A notícia gerou revolta entre os que decidiram seguir as instruções da embaixada e esperar por informações nos hotéis.

 

Neste sábado, os brasileiros que foram até a Plaza de Armas, mesmo os que não estão na lista original do voo, foram colocados em ônibus para ir ao aeroporto. Ao menos cem pessoas estão nessa situação, segundo o grupo. Não se sabe se conseguirão embarcar.

 

"Se vier todo mundo de Cusco para cá, vai dar briga, vai dar confusão, mas por enquanto a polícia está organizando as filas. Uma é com lista, outra sem lista. Não tem ninguém da embaixada brasileira e acabou de chegar mais um ônibus aqui", diz Lisiane.

 

Os turistas que estão fora de Lima e de Cusco também estão preocupados com sua situação, pois não tiveram notícia sobre o que acontecerá com eles. Segundo uma lista informal que circula nos grupos, há pelo menos 16 brasileiros na cidade de Arequipa e 19 divididos entre Lobitos, Talara e Piura.

 

De acordo com o Itamaraty, havia 3.770 turistas do país em território peruano quando as fronteiras fecharam pela primeira vez, no último domingo. Não há informações oficiais sobre quantos já foram repatriados até agora.

 

Sem informações claras sobre a situação, os brasileiros se arriscam, saindo do hotel em meio à quarentena, para tentar pressionar a embaixada. Um grupo que ainda está em Lima foi na manhã deste sábado (21) até a sede da representação diplomática na capital peruana, na tentativa de obter informações. Eles dizem que são cerca de 90 ainda na cidade.

 

Questionado pela Folha, o Itamaraty afirma que "os esforços estão concentrados em gestões diplomáticas para abertura excepcional de espaços aéreos, e em entendimentos com companhias aéreas, para a realização de voos destinados a repatriar os brasileiros".

 

Segundo o ministério, não há, até o momento, previsão de voo da FAB (Força Aérea Brasileira) para repatriar os que estão no Peru.

 

"Recomenda-se a todos os cidadãos brasileiros no exterior que mantenham a serenidade e observem estritamente as medidas determinadas pelas autoridades locais, e que, se necessário, busquem contato direto com o Consulado ou Embaixada do Brasil responsável pela região onde se encontram."

 

Um dos turistas brasileiros postou uma troca de mensagens em que a embaixada informa que o fechamento de fronteiras não é impeditivo para a repatriação. "Estamos em coordenação com a Anac, Embratur, companhias aéreas e autoridades locais, a fim de assegurar que todos os brasileiros que desejam voltar ao Brasil sejam repatriados", diz a mensagem.

 

Na noite de domingo (15), o presidente Martín Vizcarra decretou estado de emergência nacional por 15 dias para evitar a propagação do coronavírus.

 

A medida teve aplicação quase imediata: estrangeiros e locais têm que obedecer a uma quarentena obrigatória, museus e restaurantes já não podem funcionar e o transporte internacional e doméstico está suspenso desde as 23h59 de segunda (16).

 

Brasileiros foram pegos de surpresa e ficaram sem opção de transporte para voltar, retidos em cidades com comércios e hotéis fechados com a orientação de não saírem às ruas. 

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
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