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Pedro Sánchez recebe indicação do rei para tentar formar novo governo na Espanha

Por: FolhaPress

Publicado em: 11/12/2019 22:14

O rei Felipe VI da Espanha (direita) recebe o primeiro-ministro e líder do Partido Socialista Espanhol (PSOE), Pedro Sanchez (esquerda). (Foto: Kiko Huesca/AFP/POOL)
O rei Felipe VI da Espanha (direita) recebe o primeiro-ministro e líder do Partido Socialista Espanhol (PSOE), Pedro Sanchez (esquerda). (Foto: Kiko Huesca/AFP/POOL)
O rei Felipe 6º incumbiu Pedro Sánchez (da sigla de esquerda PSOE) de formar o novo governo da Espanha, depois de se reunir com líderes de todos os partidos que tiveram voto. O anúncio foi feito nesta quarta (11). 

Sánchez, que ocupa o cargo de premiê desde junho de 2018, disse que aceita o mandato conferido pelo monarca. Ele, porém, ainda precisa ter sua posse, chamada de investidura, aprovada pelo Congresso.

A Casa já negou o cargo a ele neste ano, depois das eleições de abril -o que acabou levando a um novo pleito em novembro. 

Partidos conservadores, como PP (centro-direita) e Vox (ultradireita), disseram que votarão contra. Sánchez já tem apoio do Podemos (esquerda radical) e agora precisa também dos votos de outros partidos menores, mas as negociações ainda estão em andamento. 

Por isso, não há data para a votação da investidura. 

Nos últimos dois dias, Felipe 6º recebeu os líderes de todos os partidos que conquistaram assentos no Parlamento, começando pelo menos votado.

Em um ritual repetido 19 vezes, o rei recebeu cada líder partidário em um salão nobre no Palácio da Zarzuela, a casa real que fica em uma área afastada, ao norte de Madri. Ao chegar, tira-se fotos de um aperto de mãos. Na saída, os líderes dão uma entrevista coletiva para comentar o que foi falado. 

No encontro, cada líder teve de dizer ao rei quem defendia para o cargo de premiê ou se acreditava ter apoio para que o próprio partido buscasse a investidura no Congresso. Pedro Sánchez, o último a entrar e o mais votado no pleito de novembro, disse que queria tentar o cargo.

No processo eleitoral espanhol, a votação popular é apenas o início de um trâmite demorado para compor o governo. Quando nenhum partido obtém mais da metade dos assentos (176), é preciso montar uma coalizão.

As negociações costumam durar semanas e envolvem dois caminhos. De um lado, os partidos negociam seu apoio em troca de cargos e de participação efetiva no governo. Há também outra barganha: se abster da votação, o que diminui o total necessário para a aprovação, em troca de vantagens pontuais.

Após as eleições de 10 de novembro, PSOE (120 assentos conquistados) e Unidas Podemos (35), ambas de esquerda, chegaram a um acordo para montar uma coalizão, mas como não obtêm juntos a maioria, precisam conversar com outras legendas.

Com isso, de novo, o poder de destravar a situação ficou com os pequenos partidos nacionalistas da Catalunha, que vivem um racha. 

Esses partidos buscam meios de forçar Sánchez, caso ele seja efetivado como premiê, a ajudá-los na campanha separatista. A lista de demandas passa por dar ainda mais autonomia para a Catalunha, renegociar as punições aos líderes presos por tentar separar a região do resto da Espanha, em 2017, e passar leis que abram caminho para a independência, como a realização de um plebiscito oficial sobre a questão.

Uma votação realizada em outubro de 2017, mesmo sendo considerada ilegal pelo governo espanhol, foi o estopim da onda separatista daquele ano. Em outubro de 2019, o julgamento dos líderes envolvidos no movimento gerou uma nova onda de protestos.

O mais reticente em fazer um acordo com Sánchez é o ERC (Esquerda Republicana Catalã, 13 assentos). O partido defende que o acordo para a investidura seja concluído apenas em janeiro, pois busca tempo para negociar mais demandas. 

Já o JxC (Juntos pela Catalunha, oito assentos) disse que não irá se abster. A legenda inclui Carles Puigdemont, que liderou a tentativa fracassada de independência em 2017, e Quim Torra, atual presidente regional da Catalunha.

O IU (Esquerda Unida) e o En Comú Podem, partes da aliança Unidas Podemos, defendem que um acordo seja feito logo, pois avaliam que um governo de direita iria prejudicar a autonomia regional e trazer risco de maiores punições aos separatistas. 

O temor faz sentido: Santiago Abascal, líder do ultradireitista Vox, disse após encontrar com o rei que votará contra a investidura de Sánchez e que só apoiará um governo que "apoie a volta da ordem na Catalunha". O Vox teve um grande avanço na última eleição e foi o terceiro mais votado do país. 

O centrista Cidadãos (10 assentos), que teve uma grande derrota eleitoral e passou de terceira para sexta força, disse que não irá se abster e defende uma aliança entre PSOE, PP (direita, segundo partido mais votado) e Cidadãos, que deixaria de fora o Podemos e os grupos independentistas. A ideia não empolgou os demais partidos.

Caso a investidura não seja aprovada até o início de janeiro, será convocada uma nova eleição. Houve duas delas em 2019 e quatro delas nos últimos quatro anos. E Sánchez seguirá como premiê até que todo esse processo seja repetido e, finalmente, concluído. 

Desde a redemocratização espanhola, no fim dos anos 1970, apenas PSOE e PP se alternaram no poder. A criação de novas legendas, como Podemos e Cidadãos, fragmentou o eleitorado e tornou mais complexos os acordos para formar maioria.
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