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ELEIÇÃO

Ex-primeiro-ministro de Buteflika é eleito presidente na Argélia

Por: AFP

Publicado em: 13/12/2019 13:42

 (Foto: Ryad Kramdi / AFP)
Foto: Ryad Kramdi / AFP
Abdelmadjid Tebboune, que era chefe de governo do ex-presidente Abdelaziz Buteflika, foi eleito presidente da Argélia no primeiro turno das eleições de quinta-feira (11), marcado pela abstenção e protestos em massa em favor de uma renovação política.

Tebboune, de 74 anos, obteve 58,15% dos votos, segundo o presidente da Autoridade Nacional de Eleições, Mohamed Charfi.

As eleições foram marcadas por abstenção recorde e por manifestações em massa, inéditas desde a independência da Argélia em 1962, exigindo a renovação total das estruturas políticas. 

"Gostaria de parabenizar o candidato vencedor", disse Charfi. O Conselho Constitucional anunciará os resultados finais entre 16 e 25 de dezembro, após examinar possíveis apelações.

O islamita Abdelkader Bengrina, 57 anos, cujo partido apoiou a presidência de Buteflika, terminou em segundo (17,38%), disse Charfi. 

Ali Benflis, primeiro ministro de Buteflika entre 2000 e 2003, tornando-se seu principal adversário eleitoral nas eleições de 2004 e 2014, obteve o terceiro lugar (10,55%).

O quarto lugar (7,26%) ficou para Azzedine Mihubi, líder da União Nacional Democrática (RND), principal aliada da Frente de Libertação Nacional (FLN) de Buteflika. 

Em quinto lugar, terminou Abdelaziz Belaid (6,66%), ex-diretor da FLN e fundador de uma micropartidária para apoiar o ex-presidente. A vitória do ex-chefe de governo de Butefilka foi recebida com gritos "do povo e do exército, com Tebboune" na sede da campanha do político em Argel.

'#Hirak continua' 

No entanto, após o anúncio dos resultados, os apoiadores do movimento de protestos "Hirak" tomaram as ruas de Argel após a oração de sexta-feira, pela 43ª vez desde o início dos protestos em 22 de fevereiro. 

"A votação foi fraudulenta. Essas eleições não têm nada a ver conosco e o novo presidente não nos governará", afirmaram os manifestantes, considerando que as eleições presidenciais de quinta-feira são apenas uma extensão da era Buteflika. 

Toda sexta-feira, os argelinos vão às ruas pedir uma renovação completa das estruturas políticas em um movimento chamado "Hirak", em árabe.

No Twitter, a hashtag do dia era "#Hirak continua", que serviu para lançar uma campanha sob o lema "Tebboune não é meu presidente". 

A Autoridade Nacional Eleitoral indicou que a participação foi de 39,83%, a mais baixa da história, 10 pontos a menos do que as eleições de 2014, nas quais Buteflika conseguiu seu quarto mandato. 

O dia de quinta-feira foi dominado pela baixa participação nas assembleias de voto e por uma impressionante demonstração de força do "Hirak", o que causou uma enorme mobilização policial.

Isso aconteceu sem grandes problemas, exceto na área de Cabilia (norte), uma região tradicionalmente conflituosa, onde vive a maioria da minoria berbere da Argélia, representando um quarto da população do país, ou seja, cerca de 10 milhões pessoas.

"O povo não votou" 

Os manifestantes continuam a exigir o fim do sistema, em vigor desde a independência de 1962, e a saída de todos os partidários ou colaboradores de Buteflika durante seus 20 anos de mandato. 

"O povo não votou. Sempre foi negligenciados. Sempre nos amordaçaram desde a independência. Nos despojaram da nossa independência. Ontem bateram em nós. Mulheres e idosos foram espancados. Vamos continuar até a saída do sistema", explica Djamila, uma manifestante sexagenária.

Após uma primeira tentativa de eleições abortada em julho, a cúpula das Forças Armadas, pilar do regime e comandada desde a saída de Butefklika, sabia que tinha que organizar essas eleições para superar a crise político-institucional do país que tem agravado a situação econômica.
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