"Agora nasce uma nova Bolívia, não podemos seguir encobrindo ninguém por amizade. Vamos iniciar processos de responsabilidade ao presidente Evo Morales, ao vice-presidente, a todos os seus ministros, absolutamente a todos, porque eles fizeram parte das mortes", acusou Camacho, em um vídeo divulgado na noite de domingo, segundo o jornal La Razón.
"Comecemos julgamentos aos delinquentes do partido do governo, colocando-os presos. Amanhã começamos os processos", disse, assegurando que não se trata de vingança, mas de "justiça divina".
Na manhã desta segunda (11), Evo disse que, além de sua casa, a de sua irmã foi atacada e que houve ameaças de morte a ministros e a seus filhos. "Os golpistas (...) agora mentem e tratam de nos culpar pelo caos e violência que eles provocaram. Bolívia e o mundo são testemunhas do golpe."
Evo agradeceu também ao apoio que recebeu. "Me emocionaram até me fazer chorar."
Após a saída de Evo, a Bolívia vive um vácuo de poder, pois o vice-presidente e os chefes do Senado e da Câmara renunciaram.
Neste cenário, a segunda vice-presidente do Senado, a opositora Jeanine Añez, reivindicou o direito de assumir a presidência, "com o único objetivo de convocar novas eleições".
Não está claro qual será o destino de Evo. Ele afirmou que não abandonaria a Bolívia, mas o México ofereceu asilo, anunciou o chanceler Marcelo Ebrard.
Segundo o ministro mexicano, há 20 políticos abrigados na embaixada do país em La Paz. %u200BVários deles afirmaram que suas famílias haviam sido ameaçadas. Manifestantes queimaram casas de várias autoridades no país.
No domingo à noite, a praça Murillo de La Paz, onde fica o Palácio Quemado, antiga sede do governo, foi tomada por bolivianos dispostos a celebrar a renúncia de Evo, que governou a Bolívia por quase 14 anos, um recorde nacional de permanência no poder.
Durante a noite foram registrados atos violentos em La Paz e na cidade vizinha de El Alto, protagonizados por pessoas que pareciam seguidores do ex-presidente. Houve incêndios em ônibus municipais e saques nas casas de um líder cívico e de uma jornalista, de acordo com denúncias dos afetados.
Durante a manhã, ao tomar conhecimento do relatório, o então presidente anunciou novas eleições, mas a notícia não foi suficiente para conter a ira da oposição.
Evo enfrentou durante o domingo uma avalanche de renúncias de altos funcionários, em alguns casos depois de terem tido suas casas incendiadas, e a pressão decisiva dos militares e da polícia, que pediram sua saída do cargo.
"Pedimos ao presidente de Estado que renuncie a seu mandato presidencial e permita a pacificação e a manutenção da estabilidade, pelo bem de nossa Bolívia", disse o comandante em chefe das Forças Armadas, o general Williams Kaliman.
Após o pronunciamento de Evo, a polícia prendeu a presidente do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), María Eugenia Choque, e outros funcionários do organismo por ordem do Ministério Público, que investiga irregularidades cometidas nas eleições.
Nesta segunda-feira, o governo da Rússia, aliado de Evo, afirmou que as ações violentas da oposição forçaram sua saída e que a situação "lembra um golpe de Estado".
A diretora da RT, TV russa apoiada pelo Kremlin, convidou Evo a ser apresentador do canal em espanhol da emissora. O ex-presidente do Equador, Rafael Correa. apresenta há um ano um programa de entrevistas políticas no mesmo canal.
A chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediram moderação e novas eleições.
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, ironizou a renúncia e voltou a usar a expressão "grande dia", seguida de um sinal de joinha, em mensagem nas redes sociais.
O chanceler do Brasil, Ernesto Araújo, disse que não se trata de um golpe. "A tentativa de fraude eleitoral maciça deslegitimou Evo Morales, que teve a atitude correta de renunciar diante do clamor popular. Brasil apoiará transição democrática e constitucional. Narrativa de golpe só serve para incitar violência", publicou em uma rede social.
Cuba, Venezuela e Nicarágua, os principais aliados ideológicos de Evo na América Latina, denunciaram o que consideram ter sido um "golpe de Estado". A mesma crítica foi feita pelo presidente eleito argentino, Alberto Fernández, e pelo ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.%u200B