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Refúgio

Europa deve se preparar para nova onda migratória, alerta premiê grego

Por: AFP

Publicado em: 17/10/2019 08:55

Louisa Gouliamaki/AFP
"A Europa deve se preparar para uma possível nova onda de migrantes e refugiados", advertiu nesta quarta-feira (16) o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, na véspera de uma cúpula da UE, tensa devido à ofensiva turca na Síria.

Cem dias depois de ter assumido seu cargo, Mitsotakis, cujo país voltou a se tornar este ano a principal porta de entrada para a Europa, subiu o tom contra os países do bloco que se negam a receber migrantes em seu território.

"Tem que haver consequências para aqueles que escolhem não participar neste exercício de solidariedade europeia", afirmou o primeiro-ministro conservador em entrevista exclusiva à AFP. 

Mitsotakis advertiu ao Parlamento grego que pedirá "sanções específicas" contra esses países, sem mencioná-los.

Com mais de 70.000 solicitantes de refúgio na Grécia, dos quais cerca de 33.000 nas ilhas do mar Egeu próximas à Turquia, Mitstotakis classificou de "inaceitável o enfoque de muitos países-membros (da UE) que consideram que não é seu problema".

"Temos entre 3.000 e 4.000 menores (de idade) não acompanhados na Grécia. Não seria muito difícil para os países europeus assumirem uma parte dessa carga", afirmou à AFP. 

Durante seu "primeiro" conselho europeu, quinta e sexta-feira em Bruxelas, o líder do partido de direita Nova Democracia, eleito em 7 de julho para suceder a esquerda de Alexis Tsipras, prometeu pautar "a questão do repartição da carga" migratória.

"Não podemos evitar, a Grécia não pode se ocupar desse problema sozinha", insistiu.

"Observando o número (de migrantes) que atravessaram o mar Egeu neste verão em comparação com o passado, estamos enfrentando um problema de proporções graves", acrescentou o chefe de governo. 

Em 2019, mais de 46.000 migrantes chegaram à Grécia, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), mais do que na Espanha, na Itália, em Malta e no Chipre juntos.

Muito longe do milhão de refugiados que desembarcaram em seu território em 2015, esse fluxo relança na Grécia a questão da acolhida dos migrantes. Os centros de acolhida já superlotados das ilhas do Egeu não conseguirão suportar uma nova onda migratória provocada pela ofensiva turca na Síria.

Nesse sentido, Mitsotakis condenou com firmeza a "incursão" turca na Síria porque cria "um novo polo de instabilidade que pode criar uma nova pressão migratória" na Europa, advertiu.

A "chantagem" de Erdogan
Consultado sobre a ameaça do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de "abrir as portas" aos 3,6 milhões de migrantes no território turco em resposta às críticas europeias pela ofensiva na Síria, Mitsotakis julgou "inaceitável" que a "Europa possa ser objeto de uma chantagem". 

"Atravessamos uma fase de grandes turbulências e devemos frear a tempestade", afirmou o primeiro-ministro, avaliando que a execução dessa ameaça deteriorará ainda mais as relações UE-Turquia.

"O comportamento de Ancara torna ainda mais complicada a gestão do problema migratório", lamentou Mitsotakis. "A UE foi generosa com a Turquia (nos termos do acordo bilateral de março de 2016 sobre o controle de fluxos migratórios). Não acho que a Turquia o reconheça plenamente", acrescentou.

Para Mitsotakis, a questão migratória "é a mais difícil hoje em dia" porque a Grécia não pode "controlar".

"Somos um pilar de estabilidade em uma região instável. Não podemos mudar a geografia", mas "precisamos de mais apoio da Europa", ressaltou.

Ele pediu particularmente "tecnologia" para identificar os barcos carregados de migrantes antes que estes partam da costa turca e reforço da Frontex, a agência europeia de controle das fronteiras externas do bloco, e uma reflexão sobre o que esta "pode e não pode fazer" no Egeu.

O governo grego já previu devolver cerca de 10.000 migrantes para a Turquia até 2020. Para alcançar esse objetivo, sua "prioridade número um é acelerar os procedimentos de refúgio".

"Quando não se é elegível para o refúgio, deve ser reenviado para a Turquia", conforme prevê o acordo UE-Ancara de março de 2016, advertiu.
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