O escândalo forçou a renúncia de cinco autoridades e envolveu no nome de Jair Bolsonaro. “Negócio com os Bolsonaro após ata secreta em Itaipu”, estampava, em sua manchete nesta quarta-feira (31/7), o ABC Color, principal jornal de Assunção. Segundo o diário, o advogado José Rodríguez González, 27 anos, teria intermediado negócios entre a Ande — o equivalente à Eletrobras paraguaia — e a companhia brasileira Léros Comercializadora, a qual teria ligações com a família Bolsonaro. A mediação, ainda de acordo com o ABC Color, ocorreu sob as ordens de Hugo Velázquez. O Continua depois da publicidade
Correio enviou várias mensagens para González e tentou contato por telefone, mas não obteve resposta.
Reação
Em entrevista ao Correio, Alfredo Boccia Paz — escritor, médico e analista político do Ultima Hora — classificou como “extremamente grave o fato de um advogado de 27 anos, não vinculado ao governo, ter acesso a informação sensível e que vincularia o vice-presidente a um negócio de venda de energia aparentemente ligado ao clã Bolsonaro”. Ele explicou que a população paraguaia foi pega de surpresa com a renúncia do presidente e do gerente técnico da Ande. “Ambos denunciaram que, em maio, assinou-se um acordo secreto nocivo aos interesses do Paraguai, o qual obrigaria a um aumento da tarifa de energia elétrica. Isso provocou grande reação popular. Itaipu é um tema muito sensível em meu país. O Partido Liberal, principal legenda da oposição, exigiu a cabeça do chanceler (Luis Alberto Castiglioni), do diretor de Itaipu (José Alberto Alderete) e do embaixador paraguaio no Brasil (Hugo Saguier Caballero)”, comentou.
Com a divulgação de uma mensagem de WhatsApp de José Rodríguez González, na qual o advogado orientava Alderete a retirar um dos itens do acordo secreto com o Brasil, o escândalo ganhou em intensidade. Boccia acredita no êxito do julgamento político de Marito e de Velázquez. “A bancada do ex-presidente Horacio Cartes (Honor Colorado) acaba de anunciar que apoia o julgamento. Como eles costumavam votar alinhados ao Partido Colorado, isso se trata de um terremoto político”, avaliou, por volta das 21h40 nesta quarta-feira (31/7). “O caso também põe em xeque a confiabilidade sobre o modo como o Paraguai negocia com o Brasil. O pior é a impressão de que negócios particulares estão por trás de toda essa suposta causa nacional, a renegociação de Itaipu, um dos assuntos mais delicados da campanha do atual presidente”, acrescentou o analista.
O cientista político Jose Carlos Rodríguez, da Universidade Nacional de Assunção, crê que o suposto envolvimento do clã Bolsonaro seja “especulação”. De acordo com ele, a exclusão do item 6 do acordo fará com que o Paraguai siga fornecendo energia a preço muito reduzido para o Brasil. “A indústria brasileira comprará energia a preço muito baixo, sem permitir a contrapartida paraguaia.” Nesta quarta-feira (31/7), María Epifania González, secretária de Prevenção de Lavagem de Dinheiro ou Bens do Paraguaio (Seprelad) e mãe de González, também entregou o cargo.
PT exige acesso a pacto
Os pivôs da crise
Hugo Velázquez, vice-presidente
Luis Alberto Castiglioni, chanceler
José Alberto Alderete, diretor da Itaipu no Paraguai
Hugo Saguier Caballero, embaixador do Paraguai em Brasília
Renunciou após o envolvimento do filho, o advogado José Rodríguez González, em uma reunião com brasileiros para que fosse retirado do acordo o item que dizia que o Paraguai poderia comercializar livremente sua energia excedente.