Fortaleza (CE) – As passarelas cearenses foram transformadas em palco de protesto, rompimento de padrões, celebração do feminino e da identidade cultural e artesanato nordestinos. Através delas, o festival Dragão Fashion Brasil (DFB) 2018 revigorou, por mais um ano, a moda autoral nacional. Nomes como Lindebergue Fernandes, Gisela Franck, Ronaldo Silvestre, Ivanildo Nunes e Almerinda Maria integraram o line-up do evento, considerado o maior encontro de moda autoral da América Latina, e equilibraram delicadeza e contundência para se impor.
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Dragão Fashion: moda autoral brilha nas passarelas cearenses
Desfiles questionam padrões de beleza e gênero, valorizam artesanato nordestino e celebram o feminino e a democratização do acesso à moda
“Eu quis fazer uma moda democrática, a passarela é lugar de manifestação”, declarou Lindebergue nos bastidores de sua coleção Amor próprio, dedicada a falar sobre pessoas e para pessoas, em vez de listar tendências comerciais. Aplaudido de pé, o estilista escolheu corpos não padronizados entre si – com a enriquecedora participação do coletivo artístico As Travestidas em seu casting – para exibir malhas estampadas com manifestos: “amor”, “próprio” e “contém gente” sugeriram o rompimento de padrões de beleza e de gênero, convidando à auto-aceitação e à aceitação do Outro. Materiais plásticos e transparências revelaram os indivíduos por baixo das roupas, enquanto ilustrações lúdicas de órgãos genitais agregaram humor e vigor ao desfile-manifesto. A moda engajada de Lindebergue, cearense de 41 anos, é uma lufada de vida para o setor.
Estreante no DFB e encarregada de abrir a temporada de desfiles no Terminal Marítimo de Passageiros, onde o evento se estrutura, a marca de roupas leves Flee empunhou bandeiras afins: lançou luz sobre o feminino e o amor-próprio, o divino que existe em cada mulher. “Amo-me sobre todas as coisas. Sou a dona, a deusa de mim, a quem devo toda minha lealdade e meu carinho. Eu me celebro, eu me encho de flores, de brilho e perfumes, eu canto para mim. Minha força vem de dentro”, sentenciaram as diretrizes da coleção, intitulada Autodevota. Unidos na Ello.Collab, os selos Elemento Fio, K e Padma reforçaram a causa na coleção Manifeste seu poder: juntas nós podemos, apresentando vinte composições inspiradas em mulheres símbolos de luta pelo empoderamento feminino. Propostas acertadas e atuais.
Em torno das ideologias que deram alma às coleções, tendências como o mood oitentista, o genderless, o geometrismo, o handmade e o romantismo se destacaram. O estilista João Paulo Guedes, radicado no Canadá desde 2008, apostou nas listras, mangas balonês, transparências e cores primárias na coleção Illusions. Iury Costa, inspirado nas obras do artista Sérvulo Esmeraldo, usou o jeans, as modelagens geométricas e proporções inusitadas na coleção Astúcias, enquanto Rebeca Sampaio lançou mão do couro, das texturas rústicas e das cinturas altas para apresentar mulheres cosmopolitas e mood oitentista na coleção Rosie. Entre outros destaques da temporada, Kallil Nepomuceno brilhou com sua moda festa hiper-romântica e Gisela Franck defendeu o consumo consciente com minimalismo e matéria-prima de fibras naturais. Rendá (por Camila Arrais) e Almerinda Maria celebraram a renda, revisitando a Renascença, o labirinto e o Richelieu: lançaram luz, como propõe o festival, sobre o viés clássico – mas não óbvio – das tradições regionais.