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Semana de Moda de Nova York: feminismo, túnicas, minimalismo e outros destaques

Semana de Moda de Nova York teve contornos políticos e deu protagonismo à cor preta e ao "power dressing", na esteira de movimentos feministas recentes, como o Time's Up e o #MeToo

Por: Larissa Lins

Por: AFP

Publicado em: 27/02/2018 15:41 | Atualizado em: 27/02/2018 15:37

Mais de 130 marcas participaram da Semana de Moda de Nova York. Foto: Jewel Samad/AFP

Os trabalhos foram abertos nas passarelas internacionais: neste mês, mais de 130 marcas participaram da Semana de Moda de Nova York e revelaram ao mundo suas apostas – e ideologias - para as próximas temporadas. Nomes como Jason Wu, Tom Ford e Alexander Wang exibiram golas altas, o power dressing, figurinos pretos, capas, xales e ternos entre as principais sugestões da estação novaiorquina.

O apoio aos chamados "dreamers" (filhos de imigrantes ilegais que vivem nos Estados Unidos), uma inesperada moda recatada e de inspiração religiosa, além de contornos feministas e empoderadores - na esteira de movimentos como Times Up e #MeToo, em combate aos casos de abusos sexuais nos bastidores de Hollywood e às desigualdades entre os gêneros – marcaram as apresentações.

Ecos dos vestidos pretos que atrizes, roteiristas e diretoras do cinema e da televisão elegeram para cruzar os tapetes vermelhos de premiações como o Globo de Ouro e o BAFTA (British Academy Film Awards) reverberaram em diferentes momentos da NYFW. Clássico atemporal, a cor preta foi revigorada na moda, especialmente para a noite. Michael Kors, Tom Ford, Tadashi Shoji e Christian Siriano mostraram vestidos, calças e jaquetas pretas, enquanto a chilena María Cornejo combinou o preto com vermelho e azul elétrico. E até na colorida coleção da porto-riquenha Stella Nolasco, muito afetada pelo furacão María, houve espaço para pretos sensuais curtos e longos, com muita renda e plumas.

O empoderamento feminino, revigorado nos tapetes vermelhos de Hollywood, inspirou performances na NYFW. Foto: Astrid Stawiarz Getty Images AFP


E a aura de empoderamento foi além: Alexander Wang entregou um estilo de "power dressing" para a mulher trabalhadora, apresentando sua coleção numa espécie de escritório com cubículos, após o escândalo que derrubou o ex-produtor de Hollywood Harvey Weinstein. Prabal Gurung consolidou sua reputação como o “estilista da mulher pensante” com uma coleção inspirada em grupos dominados por mulheres como o Gulabi Gang da Índia ou a tribo Mosuo da China. A mulher de Tom Ford foi mostrada como um super-herói com calças e ternos de paletó: quase não houve saias e as bolsas exibiram as palavras "pussy power" (em referência a declarações machistas do presidente Donald Trump). Ralph Lauren, por sua vez, pôs na passarela um terno branco de paletó e calça, a vestimenta preferida de Hillary Clinton e das mulheres no Grammy - usada recentemente, inclusive, pela primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump.

A expressão dreamer, tão popular no discurso coletivo norte-americano, aqueceu o viés político da fashion week, fazendo referências não somente aos ideais do “sonho americano” e ao significado literal da palavra (sonhador, em tradução livre), mas sobretudo aos jovens que imigraram ilegalmente ao país, acompanhados de seus pais, também chamados de “dreamers” - ameaçados de deportação pelo governo Trump.

O colombiano Cortazar, que retornou a Nova York depois de 12 anos em Paris e cujas roupas foram usadas por Melania Trump, se definiu voluntariamente como um "dreamer" (sonhador) nos Estados Unidos. A Coach apresentou uma bolsa que batizou de "The Dreamer", e "dream" (sonho) foi uma das 50 palavras escolhidas por Raf Simons na Calvin Klein para resumir os Estados Unidos. "Eu sou o exemplo perfeito do sonho americano", disse à AFP o estilista hondurenho Carlos Campos, que chegou aos EUA aos 13 anos, sozinho e sem documentos, e tornou-se um clássico da NYFW.

Ralph Lauren levou modelagens acinturadas, calças, vestidos coloridos e até mesmo um terno branco de paletó e calça. Foto: Jewel Samad/AFP


Londres, Milão e Paris serão os próximos cenários do calendário internacional da moda, ditando tendências voltadas sobretudo ao outono e inverno 2018/2019 – que, no Hemisfério Norte, tem início em setembro deste ano. 

>> PONTOS ALTOS

Despedidas: Há algum tempo Nova York sofre com a ausência de grandes marcas, e houve mais despedidas desta vez. A venezuelana Carolina Herrera, de 79 anos, disse adeus ao cargo de diretora criativa da marca que fundou há quatro décadas e o canadense Jason Wu deixará a Hugo Boss para se concentrar em sua própria linha.

Recatadas: A vasta maioria da coleção tipo inverno nuclear de Calvin Klein, com saias longas, pescoços e cabelos cobertos e corpos envoltos em roupas folgadas poderia ser vestida por muçulmanas ou judias que seguem estritamente a religião. Jenny Packham exibiu capas para tapar os ombros de seus modelos de alça. Os vestidos de coquetel coloridos de Ralph Lauren tinham golas altas e mangas. "Um monte de mulheres que compram nossos vestidos não gostam de mostrar a parte superior dos braços", disse Packham à AFP.

Túnicas e peças mais compostas atraíram as atenções e miraram no mercado consumidor religioso. Foto: Fernanda Calfat Getty Images AFP


Religiosas: A estilista indonésia Vivi Zubedi cativou o público com sua coleção composta apenas por túnicas, esperando capitalizar no recente mercado da moda muçulmana. As modelos desfilaram com abayas (túnicas largas e compridas típicas da Arábia Saudita) em estampas batik, em veludo preto e azul profundo, véus com pérolas bordadas e bonés de beisebol sobre os hijabs.

Camadas: Os clientes das passarelas nem sempre vivem em lugares frios. Por isso, a proposta de Tory Burch, Victoria Beckham e outros foi a de se vestirem em camadas, algo perfeito para suas clientes do Extremo Oriente e que também pode ser conveniente nas regiões mais quentes do Brasil. 

Minimalismo esteve entre os principais destaques da temporada. Na foto, desfile da Hugo Boss. Foto: Jewel Samad/AFP


Cintos: Houve uma nova obsessão pelos cintos, como mostrou Adam Selman. Marc Jacobs apertou suas cinturas com faixas de couro extravagantes. Kors escolheu fazê-los de leopardo. E eles foram também a estrela do desfile de tributo a Carolina Herrera.

Minimalistas: A última coleção elaborada para a Hugo Boss pelo canadense Jason Wu, responsável por toda a linha feminina desde 2013, foi sóbria. Inspirada na obra do artista minimalista americano Robert Morris, as roupas foram tão sérias quanto as paredes ásperas do local. Dominaram e o preto e o azul, com casacos de lã amplos, enormes suéteres, pequenos vestidos tubinho de seda, ternos com calças e paletó em xadrez com toques de vermelho. 

O preto foi um dos protagonistas na passarela. Na foto, desfile de Carolina Herrera. Foto: Monica Schipper Getty Images AFP

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