Moda

Estilista pernambucana redescobre a moda ao se tornar mãe

Com a chegada da filha Clara, Nivia Cabus resgatou sua carreira na moda e criou a marca Fenda Mini para os pequenos

Nivia redescobriu a carreira como estilista após a chegada de Clara. Ela se uniu a Monique para criar roupas para meninos e meninas na Fenda Mini. Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

A maternidade chegou para a pernambucana Nívia Cabús com os contornos de uma revolução: os desdobramentos da chegada de Clara, hoje com 2 anos e 9 meses, se derramaram para além da relação íntima entre mãe e filha. Nívia, que deixara a carreira nos bastidores da moda adormecida por três anos, decidiu despertá-la. Nascia uma mãe, renascia uma estilista. A marca Fenda, concebida em 2011 com conceito minimalista, clássico  e multifuncional, foi resgatada em novo formato, agora voltado ao público infantil, e deu à luz a Fenda Mini. O novo selo reúne peças “miúdas” com a mesma proposta do original: cores leves, modelagem confortável, estampas discretas, bossas autorais.

O fazer criativo, contudo, foi amadurecido. “Penso muito no conforto, em roupas que permitam a mobilidade das brincadeiras, despertem a atenção da criança ao que vai vestir, no estilo descolado e cheio de graça, inerente ao formato miúdo”, explica Nivia, 29 anos, que toma a filha como principal inspiração. Mesmo os tecidos são escolhidos com propósito além do estético, de modo a gerar estímulos lúdicos nos pequenos e não limitar seus movimentos e descobertas. A ideia é que as crianças tomem gosto pela construção intuitiva de seu próprio estilo: laços, botões, babados e estamparia fazem as vezes de chamariz.

Clara assiste a tudo: a mãe desenha os croquís, estrutura as modelagens, planeja a montagem das peças - produzidas por três costureiras e comercializadas em ambiente virtual. O atelier provisório, instalado em Aldeia, em Camaragibe, Região Metropolitana do Recife, será transformado em sede da Fenda Mini. O projeto ascende na cena fashion pernambucana ao propor composições autorais para os pequenos sem abrir mão de diretrizes afetivas, sustentáveis, autorais. "Sempre tive vontade de trabalhar com crianças, me encanto demais com esse universo. Sempre sonhei em ser mãe e, quando Clara chegou, revolucionou muita coisa dentro de mim. Desde a gestação, eu me policiava para ser de fato o que queria transmitir para ela, a melhor versão de mim mesma", conta a estilista.

O repertório de mais de 30 peças-chave etiquetadas pela Fenda Mini será avolumado nas próximas temporadas: para desenvolver itens dedicados exclusivamente aos meninos, Nivia firmou parceria com a conterrânea Monique Cabral - mãe de Francisco. O universo de referências dele se somará ao de Clara para inspirar o catálogo da marca, também aberta a encomendas e personalizações. "A Fenda Mini vem do projeto [Fenda] que Nivia iniciou quando fizemos nossa pós-graduação em moda e stylist. Agora, resolvemos unir nossa paixão por moda, crianças e tecidos", anunciou Monique nas redes sociais. É na internet que o selo ganha força, assim como ocorre à maior parte das marcas pernambucanas independentes e com filosofia artesanal.

Passado e presente eventualmente se cruzam: "Não existe a pretensão de retomar a antiga marca [Fenda] em seu formato original. Mas, pontualmente, podemos lançar peças que vistam mães e filhas com simetria", antecipa Nivia, reconhecida há alguns anos pelas peças de corte e modelagem caprichados, cujos nomes homenageavam mulheres comuns. Calças, vestidos, blusas e saias eram registrados como Manuela, Maria, Fátima, Rafaela, Karine. Agora, são todos de Clara: "Quando ela nasceu, nasceu também uma mãe com sede de expressar toda a inspiração que ela motivou em mim."

>> SERVIÇO

Fenda Mini para meninos e meninas

Instagram: @fendamini

Informações: (81) 99121-8765

A Fenda Mini aposta em modelagens confortáveis e tecidos com estamparia lúdica e cores atrativas para os pequenos. Fotos: Instagram/@fendamini/Reprodução

>> ENTREVISTA: Nívia Cabús, estilista

Como a maternidade influenciou a retomada da carreira na moda?

A chegada de Clara me deu motivação para repensar muitas coisas. A preocupação central, entre todas elas, era como me tornar uma referência para aquele ser que habitaria minha vida. Me senti na obrigação de iniciar uma nova construção de mim mesma, cumprindo minhas vontades antes banalizadas, deixas de lado por falta de coragem. A moda não veio sozinha. Meu sonho de infância adormecido era ser médica, então adormeci o projeto da Fenda, ainda na licença maternidade, e decidi maturar meu sonho junto às outras novidades daquela fase.

E como foi esse processo de resgatar os sonhos, transformar a si mesma?

Voltei a estudar quando Clara estava com 6 meses. E foi bem difícil, pois nossa ligação sempre foi intensa demais. Mas meu sonho teve seu primeiro passo alcançado, e agora estou na faculdade de medicina. Ao mesmo tempo em que eu sentia muita saudade, me sentia renovar, sentia um gás diferente, uma força diferente, com motivos diferentes. Acima de tudo, me sentia extremamente realizada. Surgiu a ideia, com um novo motivo e com a melhor das minhas inspirações, de acordar a Fenda, agora em um novo formato. A marca que começou a ser sonhada e idealizada em 2011, motivada pelo sonho do próprio negócio, voltou renovada e cheia de amor em 2017.

Como a moda pode servir de ferramenta de aproximação entre mãe e filhos?

Acredito que a moda possa aumentar o vínculo no sentido de que a mãe, sendo uma referência para os filhos, pode inspirar as escolhas deles.

Na condição de estilista e mãe, como vê a moda infantil autoral na atualidade?

Acho que a moda está cada vez mais democrática, tanto no que diz respeito a estilo como no que diz respeito ao acesso a novidades de todo tipo, seja para o público adulto ou infantil. Nesse contexto, espero atender a quem quer proporcionar mais conforto para os pequenos, vestindo comodidade e estética de forma acessível.

>> MODA PARA FILHOS

- A escolha de peças para montar o look das crianças é um momento de aproximação com os filhos, quando eles deixam claras preferências, traços de personalidade, referências estéticas. Há uma troca de explicações em torno dos itens escolhidos pelos pequenos e também pelos tutores, que pode ser aproveitada para dar liberdade ao desenvolvimento do estilo próprio de cada criança.

- A moda serve de conexão entre os pais e filhos. É através da observação deles que as crianças constroem as primeiras referências de estilo, sendo comum a admiração de características marcantes dos pais e das mães e a vontade de espelhá-las.

- A escolha de tecidos, matérias-primas e modelagens para as crianças é fundamental. As roupas devem ser confortáveis, frescas, maleáveis. Se as cores e estampas tiverem apelo lúdico, melhor ainda.

- Apesar da tendência das crianças se apropriarem de objetos do guarda-roupa dos pais e mães, é importante não “adultizar” os pequenos. Os sapatos e roupas devem ser confortáveis e apropriados à idade deles, permitindo sua livre movimentação e se adaptando às brincadeiras e atividades típicas da infância.

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