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Praia de Zé Pequeno é área 'livre' de tubarões para surfe em Olinda

Mesmo sem comprovação científica quanto à segurança, a praia localizada em Bairro Novo é uma das únicas na RMR com o aval do Poder Público para receber surfistas em suas ondas

Publicado em: 08/06/2018 08:24

Foto:  Helder Tavares/DP/D.A Press
Quando os incidentes envolvendo tubarões começaram a crescer vertiginosamente no estado, em meados da década de 1990, alguns surfistas viram como exagerada a decisão do governo do estado em proibir a prática de surfe, bodyboading e outras atividades náuticas em toda a faixa litorânea de Paulista ao Cabo de Santo Agostinho. Através de decreto feito em janeiro de 1995, o Poder Público endureceu a fiscalização aos surfistas, muitas pranchas foram apreendidas e os donos delas retirados da água. Hoje, as placas que indicam a proibição cobrem praticamente todo o litoral da Região Metropolitana do Recife (RMR), mas há um lugar, a praia de Zé Pequeno, em Bairro Novo, onde o apelo visual não é necessário.

Ainda que não haja estudos que comprovem a segurança da Zé Pequeno, a praia é tida como o último refúgio do surfe na RMR e muitos praticantes do esporte se aventuram em suas ondas que, embora pequenas, são atrativas devido à proximidade da capital. Segundo o presidente da Associação do Surfe de Olinda, Thalis Odiany, 35 anos, houve um apelo muito grande por parte dos surfistas na época da proibição, que terminou convencendo o Poder Público a voltar atrás na proibição da prática esportiva no trecho. Hoje, Zé Pequeno é a única praia da RMR em que a prática do surfe é liberada. “É um privilégio para a gente ter a praia liberada. Nunca teve ataque aqui, por isso que ela é liberada. A praia é um lazer público”, conta o surfista.

De acordo com Thalis, a proibição foi precipitada e a decisão em voltar atrás foi positiva para a prática esportiva no estado. “Aconteceram vários ataques e proibiram em todos os lugares, mas depois liberaram porque viram que aqui não tem ataque. Vem muita gente de Olinda e às vezes vem pessoas de fora, normalmente quando tem eventos. Temos o Circuito Pernambucano, que é sempre realizado aqui na praia de Zé Pequeno, e tem o nosso Festival Olindense de Surfe, que é um dos maiores do estado. A gente foca muito nesse evento”, conta o presidente, que frequenta a praia desde os 10 anos.

Com o mesmo pensamento de Thalis, o surfista Jesuilton Bezerra, 35 anos, confessa que sente mais segurança em surfar em Zé Pequeno, mas cobra atenção do Poder Público com a área em relação à prevenção de incidentes envolvendo tubarões. “A gente sabe que aqui nunca teve ataque, mas a gente sabe também que existe o risco. Gostamos de surfe e por isso nos arriscamos. Quando eu não posso ir pra Porto (de Galinhas) eu surfo na praia do Zé Pequeno. Domingo passado aquele menino foi atacado em Piedade e as praias são muito próximas”, conta o surfista, que pratica o esporte no local desde os sete anos de idade. A Prefeitura de Olinda afirma que estão em desenvolvimento ações de educação e prevenção a ataques de tubarão para os alunos da rede pública de ensino e para os banhistas da orla. Além disso, os bombeiros contam com uma embarcação e dois pontos de observação ao longo da orla do município. 

Ainda que não tenha sido registrado nenhum incidente envolvendo tubarões na praia de Zé Pequeno, a proximidade do local com outros pontos potencialmente perigosos é uma preocupação constante entre os frequentadores da praia. A prática do surfe no local, entretanto, tem o aval do Governo do Estado. “A definição dos trechos que foram proibidos está no decreto de proibição e é baseado na ocorrência de acidentes. Durante muito tempo não houve acidente na praia de Zé Pequeno. Por causa disso o Comitê resolveu se reunir e pediu a liberação da praia junto ao Governo do Estado”, explica o presidente do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), coronel Leodilson Bastos.

Mesmo como a liberação por parte do Cemit, o pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco, André Afonso, alerta surfistas e banhistas que não há dados substanciais que comprovem a segurança da praia. “Desconheço que tenha sido feito um estudo específico da área. Ela está sujeita a ataques como qualquer outra. O fato é que não existem registros de ataque lá, eu acho que o governo quis satisfazer um desejo dos surfistas e cedeu à pressão que foi muito forte na época. Foi um compromisso entre os surfistas e o governo. Mesmo assim creio que não é arriscado, exatamente porque nunca teve ataque lá, mas a prática do surfe não é a mais segura”, explica o pesquisador.

Outro pesquisador da UFRPE, o professor Yuri Niella, vai além e ressalta que praias ao norte e ao sul de Zé Pequeno registraram incidentes envolvendo tubarões, o que não exclui a possibilidade de que um animal se aproxime de banhistas da praia olindense. “Quatro incidentes foram registrados ao sul, na praia de Del Chifre, todos com surfistas. Além disso, outro foi registrado ao norte, em Paulista. O surfe é uma atividade arriscada. Quando você entra no mar tem que ter em mente que ali nós somos intrusos”.
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