VidasEmMovimento

'Vivia no futuro. O fuso horário de lá é quase um dia a mais que aqui', conta jovem do sertão sobre Nova Zelândia

Assim como Matheus Antônio Ribeiro Freire, outros 6.527 estudantes já viajaram por meio do Programa Ganhe o Mundo

Para Matheus, acostumado com o sertão, o mais difícil foi conviver com o frio na Nova Zelândia. Foto: Rafael Martins/DP

"Uma oportunidade que não se repete". Essas foram as palavras da dona de casa Márcia Maria Ribeiro, 57 anos, ao resumir a viagem do seu filho mais novo para o exterior. Matheus Antônio Ribeiro Freire, 17, saiu de Salgueiro, Sertão Central de Pernambuco, e seguiu para Auckland, na Nova Zelândia. Ele viajou graças ao Programa Ganhe o Mundo (PGM). A mãe admite que nunca tinha ouvido falar no país até o momento em que o garoto decretou que precisava organizar a documentação e partir rumo a novos horizontes.

Desde cedo, Matheus tem mais familiaridade com a língua inglesa e isso o fez nutrir esperança sobre uma possível viagem para conhecer outros países. Assim como ele, 6.527 estudantes já viajaram por meio do programa de intercâmbio. A Nova Zelândia é o segundo país que mais recebeu estudantes, 180 na última edição, perdendo apenas para o Canadá, com 450 intercambistas. Atualmente, os países parceiros do programa são, além dos dois citados, os Estados Unidos, Austrália, Chile, Espanha, Argentina, Uruguai, Alemanha e Colômbia.

A necessidade de conhecer o mundo esbarrava com a timidez. Até hoje, ao pensar em algum arrependimento, ele lembra que poderia ter sido mais desinibido, porém afirma que isso não chegou a prejudicá-lo. A temperatura 15 graus a menos que em Salgueiro foi outro fator delicado no processo de adaptação. "As duas primeiras semanas foram bem difíceis por causa do frio. Andava pela rua com duas camisas e um casaco. Cheguei a pegar 8 graus no exterior", conta.

Matheus segura uma lembrança um boneco Kiwi, animal famoso na Nova Zelândia. Foto: Rafael Martins/DP

Antes da viagem, o lugar mais distante que o salgueirense tinha ido era Petrolina e só conheceu Recife quando estava rumo à viagem internacional. As novidades encantaram o rapaz que parecia maravilhado com o que tinha descoberto sobre o mundo. Durante os três meses e meio que permaneceu na Nova Zelândia, Matheus estudou  matemática, inglês, educação física e business (única matéria que ele nunca tinha estudado). "Enquanto estive em Auckland, vivia no futuro. Lá, o fuso horário, é quase um dia na frente do Brasil. Fui querendo ir e voltei querendo ter ficado por lá”, comenta. 

Nos dias de folga, a intenção era desbravar novas vivências. "Conheci a torre de Auckland. Visitei um lugar onde foi gravado o filme O Hobbit. Vi maoris (indígenas) fazendo a apresentação tradicional deles e passei pela cidade de Rotorua, que é conhecida por ter cheiro de enxofre", relembra.

Para diminuir a saudade, o jovem fazia vídeo chamada uma vez por semana para mostrar à mãe que estava bem e atenuar a preocupação. "Minha mãe contou que chorou nos primeiros dias de saudade que sentia de mim. Eu também sentia, mas tinha que aproveitar o lugar onde estava", revela.

Márcia Maria Ribeiro, mãe de Matheus, conta que por mais que doesse o coração ver o filho criar asas, sabia que era importante deixá-lo ir. Foto: Rafael Martins/DP

Apesar do apego materno e o vínculo afetivo claramente visível entre mãe e filho, dona Márcia afirma que faria tudo novamente. "Foi bom para ele, mas quase me mata. Eu não acreditava que ele iria. Pensava que esqueceria essa ideia. Meu sofrimento começou quando fui atrás de documentos, chorava, mas incentivava também. Sabia que era uma coisa para o bem dele. A gente dizia 'não vai', mas corria para resolver a papelada. Alguns pais não entendem que esse é o tipo de oportunidade que não se repete. Precisamos deixá-los ir", assegura.

Agora a meta de Matheus é aprender italiano e começar a faculdade de medicina. "Sonho em voltar um dia para Nova Zelândia e viver por lá.  Dessa viagem ficou o desejo de conhecer o mundo. Ampliou ainda mais a minha vontade de aprender sobre novas culturas", sonha.

Programa Ganhe o Mundo
Todos os estudantes da rede estadual de ensino podem participar do processo seletivo para o PGM, porém nem todas as escolas são polos do curso de segunda língua. Atualmente, existem 508 polos espalhados por todas as regiões do estado. Caso a escola que o estudante frequente não seja um dos polos, ele pode assistir às aulas de idioma na escola mais próxima. 

Caso a escola deseje ser um dos polos é necessário montar turmas de 19 pessoas para a língua espanhola e 25 para inglês, no mínimo.  Os jovens podem participar do PGM Tradicional, PGM Esportivo e do PGM Musical.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
Loading ...