Com o histórico de vários casos de doenças oculares na família, Jade buscou ajuda para conseguir atendimento oftalmológico. Foto: Rafael Martins/DP
Com o tocar da campainha indicando o fim das aulas, a estudante Jade Nunes Galindo, 12 anos, espera a mãe que deve buscá-la na escola após volta da consulta oftalmológica. Na família, problemas de visão são dados como herança. A menina, que cursa o sétimo ano do ensino fundamental, perde as contas quando começa a falar dos familiares que possuem doenças oculares. A mãe investiga um possível glaucoma, o avô já foi diagnosticado e a prima é miope. Há quatro meses, Jade usa óculos. Isso foi possível após a participação em um dos mutirões do Programa Boa Visão. A garota faz parte dos 398 alunos da Escola Antônio Japiassu, localizada em Arcoverde, no Sertão Moxotó, que foram beneficiados pela iniciativa, somente no ano de 2017.
Desde que foi iniciado, em 2012, o Programa Boa Visão realizou 97,9 mil consultas oftalmológicas. Também foram entregues, gratuitamente, mais de 61 mil óculos aos estudantes dos ensinos fundamental e médio nos turnos da manhã, tarde e noite. O Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (Lafepe) é responsável pela confecção das lentes corretivas.
"Eu vivia forçando minha vista, mas não adiantava. A maior dificuldade era porque não conseguia focar no quadro, via as palavras trocadas e embaçadas. Nunca fui de sentar nas cadeiras da frente, gosto mais da parte do meio, então me esforçava muito para ler qualquer coisa. Era difícil me manter focada. Sentia muita dor de cabeça, diariamente. Tenho enxaqueca e forçar a minha visão piorava muito. Percebi que agora, com os óculos, enxergo melhor, minha vista atualmente é 100%", vibrou Jade.
O Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (Lafepe) é o responsável pela confecção das lentes corretivas. Foto: Rafael Martins/DP
"Na minha sala, 10 dos 24 alunos usam óculos. Quando não aguentei mais de dores de cabeça, cheguei em casa e comentei com minha mãe sobre os sintomas e que não conseguia entender bem as letras que estavam no quadro", lembra. "Muitas pessoas da minha família possuem histórico ruim de visão. Minha mãe não usa óculos, mas está com suspeita de glaucoma. A minha tia é praticamente cega. Tive medo. Fiz a triagem e viram que precisava usar óculos".
As ações para identificar a necessidade de uma consulta oftalmológica acontecem a cada 15 dias. São disponibilizadas 80 vagas voltadas para o programa Boa Visão nas Unidades Pernambucanas de Atenção Especializada (UPAE) em Arcoverde. A escola que tiver com a triagem em dia tem preferência, de acordo com a técnica Marcilene Maria de Lira, da Gerência Regional de Educação no Sertão Moxotó. "Após o processo de triagem, o beneficiado é encaminhado para fazer o exame com o especialista e logo após recebe os óculos. Além disso, o programa Boa Visão não auxilia apenas os estudantes, como também os professores. A cada 80 vagas, 5 são destinadas aos educadores", ressalta.
Andreia Marcia de Oliveira acredita que a melhoria da visão reflete em diversos aspectos da vida do aluno. Foto: Rafael Martins/DP
A gestora adjunta da escola Antônio Japiassu, Andreia Marcia de Oliveira, disse que conseguiu entender bem os benefícios depois que mudou a perspectiva e observou com outros olhos. "Com o recebimento dos óculos, de forma gratuita, vimos estudantes recuperarem a autoestima e, além disso, vemos que a melhoria da visão está diretamente ligada à viabilização da apropriação dos conhecimentos da sala de aula. A frase mais bonita que já ouvi em forma de agradecimento pelas lentes foi a de um estudante que me disse 'agora eu posso ver a vida mais de perto'. A frase me tocou bastante", detalha a gestora.
Programa Boa Visão
Com o intuito de identificar e tratar problemas oculares dos alunos matriculados nas escolas estaduais, professores e funcionários da rede, o Projeto Boa Visão existe desde 2012 oferecendo consultas oftalmológicas e, caso seja necessário, distribui também óculos corretivos.
O Boa Visão já está implantado nas Unidades Pernambucanas de Atenção Especializada (UPAEs) de Limoeiro, Caruaru, Belo Jardim, Garanhuns, Arcoverde, Afogados da Ingazeira, Serra Talhada e Petrolina.