Nem sempre ter força de vontade para superar os obstáculos socioeconômicos é o suficiente para alcançar um grande sonho. É necessário aliar força de vontade ao acesso a uma educação de qualidade e pessoas que acreditam e apoiam quem deseja mudar de vida. E disso a estudante Acsa Mendes, de 18 anos, sabe bem. Escolheu para si, logo nos primeiros anos de vida, a medicina como profissão. Por ter crescido dentro de um contexto social diferente, no qual a educação para pessoas de baixa renda era algo raro, seu pai, Paulo Mendes, acreditava que ela poderia se frustrar com o sonho alto. “Sou nascido e crescido em Macaparana, filho de agricultor e de mãe merendeira. E a história nesse lugar é a seguinte: as pessoas que têm a oportunidade para fazer o curso de medicina são as ricas. Você não vê pobre com história de que se formou médico”.
O caminho para que Acsa conquistasse uma vaga na universidade pública, no curso de medicina, foi lapidado a muitas mãos. Ganhou força na Escola de Referência de Ensino Médio Professora Benedita de Morais Guerra, em Macaparana, a cerca de 85 quilômetros do Recife, onde cerca de 80% do total de 350 estudantes matriculados anualmente alcançam o ensino superior. A educação de qualidade nunca esteve tão acessível como hoje no município. Graças à descentralização de investimentos do governo do estado no Ensino Médio de Referência (EREM), diversos jovens têm rompido com tradições profissionais, voltadas massivamente para o cultivo da cana-de-açúcar, uma das principais atividades econômicas da região desde a fundação de Macaparana, por volta de 1930. Ao todo, em Pernambuco, foram criadas cerca de 300 EREMs, distribuídas entre as regiões do Agreste, Zona da Mata, Litoral e Sertão.
Com uma população de aproximadamente 25 mil habitantes, Macaparana mantinha há poucos anos uma forte tradição: estudantes que conseguiam concluir o ensino médio regular eram destinados para o comércio local e os demais para atividades braçais, como a colheita de cana-de-açúcar e cultivo de banana, de acordo com a diretora da EREM, Laudiceia Farias. Não era incomum, por exemplo, que o pensamento sustentado pelo pai de Acsa se estendesse a mais pessoas da localidade. “A escola trabalha para mostrar que o filho do canavieiro e o filho da pessoa mais rica do município podem, igualmente, ser o que quiserem. Seja advogado, médico, professor. Damos a mesma condição a todos, acreditando no sonho deles, ainda que eles mesmos não acreditem que possam chegar lá”, comenta, acrescentando que existem professores que matricularam os próprios filhos na instituição, o que para ela comprova a qualidade das aulas e o compromisso com os estudantes.
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