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De pau de arara ou de van, programa leva ciência ao Sertão e muda a vida de estudantes

Projeto Ciência Móvel já visitou 145 dos 185 municípios pernambucanos e ofereceu novas perspectivas de vida a jovens que viam a Academia como sonho distante

Algumas pessoas confundem o programa com a chegada de um novo circo na cidade. Foto: Espaço Ciência/Arquivo

O que é um divisor de águas? Para o jovem Nicholas Matheus Ferreira, 21 anos, é uma oportunidade bem aproveitada. Natural do município de Passira, sempre teve apreço por experimentos. Aos 16 anos, não tinha perspectivas sobre o futuro ou planos de estudos até descobrir um preparatório para a Olimpíada Brasileira de Química em Caruaru. A iniciativa, extensão do projeto Ciência Móvel, o ofereceu novo rumo. A cada final de semana, viajava uma hora e meia para ter aulas, ao longo de dois anos. Chegou a conquistar uma menção honrosa nas Olimpíadas e, atualmente, mora no Recife, onde estuda química pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e trabalha, há um ano e meio, no Espaço Ciência, o lugar que promoveu a abertura de seus horizontes.

Para Nicholas, a maior lição é a dele perceber que antes era o aluno beneficiado pelo programa e agora é quem ensina para os novos estudantes. Foto: Arquivo pessoal

Localizado no Complexo de Salgadinho, entre o Recife e Olinda, o Espaço Ciência se faz presente em todo o estado, com o Ciência Móvel, o programa tem intuito de ampliar o conhecimento por meio de exposições e já percorreu 145 municípios de Pernambuco. Faltam apenas 40 para que marquem presença em 100% do território do estado. A equipe é composta por oito pessoas que levam, hoje numa van sprinter, centenas de experimentos. Entre as exposições estão o planetário, o show de química, jogos matemáticos, anatomia e laboratório de geologia e física.

Existente há 22 anos, o programa já alcançou mais de um milhão de pessoas neste período, de acordo com a gerente de programas do Espaço Ciência, Roberta Cristina. “O encantamento que as pessoas têm ao nos ver chegar é tão grande que muitos acreditam que somos um circo”, conta. As visitas são quase sempre feitas nas quadras das escolas ou adaptadas em praças (com toldos). O programa é aberto a todo tipo de público, faixa etária e tenta aproximar os experimentos da realidade local. "Não falamos sobre o mar para pessoas que nunca o viram. À primeira vista, a ciência e os equipamentos podem parecer muito distantes, mas com o tempo mostramos como está presente no cotidiano, por exemplo, no rio, terra, agricultura", explica.

O planetário é um dos experimentos que mais encantam os visitantes. Foto: Espaço Ciência/Arquivo

Um dos centros de ensino que fazem uso prático das incursões do projeto pelo interior fica na cidade de Saloá, no Agreste Meridional. As experiências vividas pelos estudantes do 8° e 9° anos da Escola Manoel Tiago Mendes, promovidas pela professora de matemática Anne Danielle, facilitaram para a premiação no Torneio Virtual de Ciências, por duas vezes. Turma e docente receberam medalhas e troféus e puderam conhecer o Espaço Ciência. “A prática é muito importante no processo de aprendizagem. Os alunos se encantam, querem participar de todas as atividades. O planetário é o mais disputado. Fora esse, eles gostam dos que possuem experiências, equilíbrio e misturas químicas", conta a profissional.

No Sertão de Itaparica, a popularização do projeto teve participação da psicopedagoga Diorminda de Lima Ferraz, de 59 anos. Professora há 37 anos, ela conta que foi em 2000, quando precisou dar aulas de química que descobriu o projeto e o levou ao Sertão. “Nosso polo era localizado em Belém de São Francisco, mas vinha gente de diversos municípios. As escolas de Floresta eram as que mais demonstravam interesse, às vezes, quatro escolas de lá participavam do projeto simultaneamente”, lembra, sobre a proposta diferenciada que facilitava o ensino da matéria, o que parecia inimaginável para alguns professores de longe da capital. “Muitos acreditavam só ser possível ensinar plenamente a disciplina se tivessem um laboratório equipado. Vimos ser possível enxergar no próprio cotidiano boas aulas de ciência”.

Apesar das ações no interior, só a partir de 1997, o Espaço Ciência comprou uma van para facilitar a deslocação do programa. Foto: Espaço Ciência/Arquivo

A programação do Ciência Móvel para 2018 ainda não está definida. Apenas Saloá, São Vicente Férrer e Belo Jardim já estão confirmadas para o roteiro da expedição no início do ano, mas novas inscrições podem ser realizadas no site do Espaço Ciência. “Quando levamos o Ciência Móvel para a cidade deixamos rastros, lembranças, montamos exposições que duram dias, mas algumas podem durar até três meses ou mais. Toda a cidade se mobiliza. Nosso papel é principalmente o estímulo. Motivamos as pessoas para elas desenvolverem o próprio saber e se interessem mais em Ciência e Tecnologia. Alguns talentos estão distantes da capital e o Ciência Móvel ajuda a descobri-los e também a eles se autodescobrirem”, afirma.

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