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Atendimento descentralizado a bebês com microcefalia garante evolução dos pacientes no Sertão

Recém-inaugurada, UPAE de Ouricuri poupa a população sertaneja de grandes deslocamentos em busca da reabilitação e estimulação precoce dos bebês com tratamentos específicos

Na Upae, bebês com microcefalia recebem acompanhamento de fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, além de fazerem exames. Foto: Rafael Martins/DP

Com um bebê nos braços e demandas que não podem esperar, a rotina de uma mãe que teria que enfrentar dois, três agendamentos médicos a 270 km de casa passaria longe de fácil. A via-crúcis foi percorrida por alguns meses por Rafaela Maria Coelho Araújo, de 22 anos, a primeira mulher a descobrir ter tido uma criança com microcefalia no município de Araripina, no Sertão do Araripe, a 681 km do Recife. Sem estrutura hospitalar, passou a levar Maria Luiza, hoje com 1 ano e 7 meses, do pequeno distrito de Gergelim às unidades de saúde de Petrolina, no Vale do São Francisco, uma viagem sistemática de 3 horas e meia, que ainda depende da qualidade dos transportes públicos municipais de assistência à saúde. Não é de se estranhar que a agricultora seja uma das entusiastas da Unidade de Pronto Atendimento Especializado (UPAE) recém-inaugurada no município de Ouricuri, uma viagem que passou a ser feita às terças e quintas dentro de 55 minutos, a uma distância de 60 km.

No local, Luiza recebe acompanhamento de fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e é submetida a exames diversos. “Eu tinha medo até de segurar minha filha para tomar vacina. Hoje, já levo a vida normalmente. O que vier eu encaro”, conta Rafaela, sempre acompanhada de outras mães de Araripina que também “migram” regularmente à cidade em busca do estímulo necessário das crianças afetadas pelo surto de microcefalia que atingiu Pernambuco entre 2015 e 2016 – associado ao zika vírus, que compromete o desenvolvimento total do tamanho do cérebro dos bebês ainda em formação nos úteros.

Rafaela Maria, Camila e Maria do Socorro passaram a fazer deslocamentos menores de Araripina e Ouricuri para seguir o tratamento de seus filhos. Foto: Rafael Martins/DP

O diretor médico Damião Coimbra afirma que a demora de iniciar o acompanhamento significa retardar o resultado. Foto: Rafael Martins/DP

Camila Alves, 29, e Maria do Socorro Nobre, 23, entendem bem que responsabilidade é essa. Mães de Maria Ester, 1 ano e 5 meses, e Eriel Nobre Alencar, de 1 ano e 7 meses, elas completam o grupo de Araripina que cobram do poder público melhoria do atendimento e presença de médicos especialistas para seus rebentos, ambos com microcefalia. O pedido agora é por ortopedista mais próximo. Tudo pensando na abordagem holística de suas crianças.

A descoberta que Eriel enxergava bem foi o momento mais marcante para a mãe Socorro. Foto: Rafael Martins/DP

Diferentemente das mães de primeira viagem, Rafaela, de um pioneirismo que qualquer mãe dispensaria ostentar, vai seguindo no trio, sempre duas vezes por semana, de Araripina a Ouricuri. Se preocupa com a filha mais velha, de cinco anos, e repete o que muitos pais se acostumaram a admitir: “Não estava tendo tanto tempo para a outra. Acaba que o amor com uma criança especial você acaba vendo que fica até maior, por causa do cuidado. Já pensei que não era capaz, mas sei que dou meu melhor a ela”. E elas vão seguindo assim – visão e corações maiores que quaisquer desafios.

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