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Da mata pernambucana ao berço hispânico: o menino que abraçou a Espanha
Estudante, Luis Gustavo, de Itambé, na Mata Norte, é um dos maiores defensores do estudo da língua espanhola frente à inglesa, após experiência de intercâmbio pela rede pública de ensino
Da pequena Itambé, na Mata Norte de Pernambuco, Luís Gustavo Moreira Abreu, em seus 16 anos de vida, tinha ido no máximo à capital, Recife, ou a João Pessoa, na Paraíba. Enquanto organizava as malas antes de cruzar um oceano pela primeira vez, foi paralisado por uma crise de nervosismo forte e precisou ser “acudido” pela avó – já ocupada em disfarçar a própria preocupação. O menino nascido em Timbaúba passou meses frequentando normalmente as aulas no 3° ano do Ensino Médio e foi na véspera da viagem a Jerez de La Fronteira, na Espanha, que a noção de distância entre Pernambuco e o destino final se fez.
Era setembro de 2016 e ele trocaria a Escola de Referência em Ensino Médio Frei Orlando pela Europa, num intercâmbio promovido pelo Programa Ganhe o Mundo, que leva mais de mil alunos da rede pública de ensino ao exterior todos os anos. Seria o primeiro carimbo em seu passaporte. “Nunca havia imaginado cruzar o oceano. Entrei em desespero no dia anterior e pensei em desistir. Só não fiz isso porque me preocupava com o que os outros iriam dizer de mim, aqueles que envolvi no processo seletivo, meus avós, minha mãe, os professores, colegas…”, lembra o garoto.
Hoje fluente em conversação na língua hispânica, usa a experiência no Velho Continente para estimular o percurso de outros alunos da escola, hoje com 405 estudantes. “Existe um certo preconceito no interior do estado em relação ao espanhol. As pessoas acham que só vale a pena o intercâmbio para aprender inglês, o que não é verdade. A língua e cultura espanholas são riquíssimas”.
“Os meninos voltam mais maduros e a diferença no rendimento escolar é perceptível. Eles saem de uma cidade pequena e descobrem a real dimensão do mundo”, conta a coordenadora pedagógica Vânia Batista Barros. Segundo ela, as oportunidades geradas pelo programa estadual têm provocado uma migração de alunos da rede particular de ensino em Itambé para a escola pública, de onde apenas em 2017, 15 estudantes viajarão para o exterior. No estado, serão 1.050, dos 184 municípios, para os três destinos estrangeiros, que incluem também a Nova Zelândia.
Para quem “o mundo” acolhe, as idas e vindas são sempre grandes acontecimentos – e antecedem mudanças ainda maiores e significativas. “Quando me dei conta que deixaria meus pais espanhóis, abracei minha mãe Josefa enquanto preparávamos o jantar e comecei a chorar”, lembra o jovem. “Chorei para ir e chorei para voltar”, ele ri. Hoje, o garoto que pretende cursar direito ou história coleciona questionamentos. Muitos deles bem diferentes dos que fazia antes da viagem ou, mais além, quando estava prestes a voltar. Vai deixar Itambé? Vai retornar a ver os pais acolhedores, com quem fala por telefone ou internet toda semana? Vai voltar à Europa? Pensamentos comuns em quem percebe um tamanho de mundo sequer imaginado. “Se eu não tivesse ido, teria um arrependimento sem remédio. A gente cresce quando percebe que tem que se virar sem mãe, pai, avó. E isso tem consequências para a vida toda”.