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Como descentralizar o atendimento médico reduz o martírio de quem luta por saúde no Sertão

Consultas com especialistas no próprio interior do estado democratizam acesso à saúde reduzindo deslocamentos e ampliando conforto de pacientes sertanejos

Vera Lúcia precisava ir toda semana para a capital para se tratar de dores na lombar e agora faz todo acompanhamento na UPAE de seu município. Foto: Rafael Martins/DP

Duas vezes por semana, Vera Lúcia Maria da Silva, de 56 anos, enfrentava uma rotina maçante para contornar as fortes dores na coluna e pescoço. Apesar da necessidade de repouso, para ser tratada, a servidora da prefeitura de Afogados da Ingazeira tinha que enfrentar o deslocamento até as consultas no Recife. A cada trajeto, 380 quilômetros rodados e mais de cinco horas sentada eram somados ao histórico de uma rotina que durou sete anos. Resultado: o que era para ser solução acabava em mais dor. Como Vera Lúcia, milhares de pernambucanos do interior do estado, durante décadas, dependiam de especialidades apenas disponíveis na capital e sentiram na pele a situação mudar. Desde 2015, ela conta com consultas com um reumatologista na Unidade Pernambucana de Atenção Especializada da cidade (Upae), servindo de retrato ideal da necessidade de descentralização (e, por consequência, democratização) dos atendimentos de saúde.

As viagens ao Recife foram se tornando escassas. No próprio município, Vera Lúcia se submete aos exames e à fisioterapia. Nesse período, só esteve na capital uma vez, para uma cirurgia. "Passei 2016 inteiro vindo na Upae, vinha todos os dias porque aqui tive todo o acompanhamento e agora todo mundo me conhece. Fui consultada pelo reumatologista, neurologista e cardiologista e ainda faço a fisioterapia diariamente até hoje", afirma a paciente que, apesar de ainda sentir um pouco de dor, voltou a conseguir caminhar. 

Unidade de saúde conta não apenas com atendimento especializado, mas também é possível realizar exames no local. Foto: Rafael Martins/DP

Pernambuco conta, atualmente, com 10 unidades da UPAE, com investimento de mais de R$ 243 milhões governo estadual na construção e aquisição de equipamentos. Juntas, elas promoveram um total de 855 mil exames e 385 mil consultas de médicos especialistas em 2016, além de outros 136 mil atendimentos com terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outras áreas de saúde. 

Além dos deslocamentos, o tratamento do filho Arthur pesava no bolso de Edvânia Rodrigues, que agora gasta menos com as viagens e acompanhamento médico. Foto: Rafael Martins/DP

O componente financeiro também pesa na vida de pernambucanas como Edvânia Rodrigues da Cruz, 41. A funcionária pública viajava semanalmente ao Recife para tratar o filho Arthur, com síndrome de Down e hoje com oito anos, em uma rotina exaustiva que a motivou a, por um tempo, sacrificar o orçamento familiar para pagar por terapia ocupacional no município de Serra Talhada - um gasto extra que economizava um total de 2,4 mil km de deslocamento todos os meses. "Era muito complicado viajar com ele, não só pelo desgaste físico e emocional, mas também porque ele sempre voltava com problemas respiratórios", diz.

Hoje, exames e consultas do pequeno Arthur ficam concentrados na Upae de Afogados da Ingazeira, incluindo profissionais de fonoaudiologia, psicologia e endocrinologia. "Nós, mães de filhos especiais, também precisamos de cuidados e aqui faço todo o acompanhamento com psicólogo e fiz um tratamento com o gastro(logista) porque estava com gastrite. Além disso, tenho a certeza que Arthur é muito bem cuidado, todo mundo o conhece, dá atenção e brinca com ele", comemora.

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