Uma tarde ensolarada de fevereiro na Bacia do Pina. Os ares de veraneio da Zona Sul do Recife convidam para a celebração do amor. Bolo, docinhos, noivo no altar, chegada triunfal da noiva em uma lancha. Era o dia perfeito para o casal que tinha planejado a cerimônia com tanta antecedência. Nos bastidores daquela celebração, no entanto, outra pessoa estava tão realizada quanto ambos: Elis Araújo, de 24 anos. Era a primeira vez dela trabalhando no cerimonial de um casamento após passar por capacitação no curso de recepcionista de eventos para pessoas com síndrome de Down. “Eu treinava muito dentro de casa antes de participar do primeiro casamento”.
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Estudo, trabalho e o grito de independência de pessoas com Down no Recife
Cursos voltados a eventos e ao turismo local geram oportunidade de inserção no mercado de trabalho a pernambucanos com Síndrome de Down
Por muitos anos, o caminho de Elis foi construído por limitações impostas pela falta de oportunidades. Naquele momento, ela se tornara parte de uma equipe. Dividia a responsabilidade de organizar o salão de festas, auxiliar com o vestido e buquê e a coordenar a entrada da noiva. Tudo aprendido em sala de aula e aplicado na vida.
Esta foi a segunda certificação concluída por Elis em um período de dois anos – e ambas lhe abriram as portas do mercado de trabalho. Após o curso de informações turísticas, foi escolhida para um estágio profissional no Palácio do Campo das Princesas, por onde guiava semanalmente turistas. “Eu dava informações e mostrava os quartos que Dom Pedro II, Isabel e Leopoldina dormiram quando visitaram”, lembra a garota, que agora busca fazer um curso superior na área de eventos.
O desafio da inclusão e da representatividade de pessoas com síndrome de Down no turismo e na realização de eventos locais motivou a criação dos dois cursos feitos por Elis, oferecidos pela Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur), em um investimento de R$ 7,4 mil. Com a iniciativa, outras 47 profissionais das duas áreas foram capacitados e uma nova turma de alunos deve ser formada ainda em maio de 2017.
Para a mãe de Elis, a administradora hospitalar Simone Araújo, a diferença do trabalho na vida da filha foi notório. “Esses cursos foram um divisor de águas na vida dela. Foi o primeiro momento em que passou a ter mais contato com pessoas com Down. A diferença do antes e depois é notável, principalmente quando olho a autoconfiança. É só dar uma oportunidade que eles fazem”.
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Na hora de trabalhar, trabalhar. Na hora de amar...
A personalidade extrovertida, característicos cabelos vermelhos e o sorriso sempre no rosto cativam quem conhece Elis. Ainda assim, só depois do primeiro curso ela teve a oportunidade de expandir as relações de amizade. No fim da capacitação sobre informações turísticas, ainda em 2015, os responsáveis pelos alunos organizaram um encontro. A partir daí, as reuniões se tornaram cada vez mais frequentes e hoje o grupo virou uma grande família, batizada de Down%2b. No caso de Elis, abriu as portas até para um romance. Após algumas reuniões ela engatou um namoro com Antônio Neto, 32.
Antônio e Elis, hoje, mantém um relacionamento de dois anos. Chegaram a trabalhar na mesma festa e começam a treinar para a própria cerimônia, prevista para o ano de 2020. Vão cultivando o muito que tem em comum, sendo a parte mais relevante a crença de que nada é impossível.
>> DIA D
Pensando na inclusão, agências do trabalho estaduais e municipais abrem um dia por ano apenas para pessoas com deficiência. Conhecida como “Dia D”, há mais de três anos a iniciativa reúne empresas no Recife e em Jaboatão dos Guararapes, geralmente no mês de setembro. Em 2016, só na sede da Boa Vista, Centro do Recife, 570 vagas de emprego foram disponibilizadas ao público.
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