O enredo de bruxas, monstros e filmes de terror tornou-se uma oportunidade de ganhar dinheiro, aquecendo a movimentação do comércio, indústria e serviços. A temporada do Halloween, celebrado nesta terça-feira (31), ganhou força em Pernambuco, subsidiando lucros nos últimos meses do ano. Quem investe na festa, aposta em um crescimento médio de 40%, em comparação a 2023. A tradição estrangeira vem se incorporando ao calendário local, impulsionando, entre outras ações, comidas e bebidas temáticas, a venda de fantasias e acessórios; a realização de eventos e a produção de doces. Em geral, é mais uma tentativa de salvar o caixa, ainda com rescaldo de crise.
Na região central do Recife, as vitrines das lojas estão vestidas para a data. Os detalhes, que trazem sangue, abóboras e teias de aranha, parecem disputar espaço, onde antes reinava apenas a presença do Papai Noel. A gerente de vendas, Roseane Cavalcante, que atua no segmento de adereços e fantasias, destaca que este ano o público tem sido influenciado pelas telas do cinema. "Querem se vestir de acordo com os últimos lançamentos e tivemos que renovar os artigos para um leque maior de opções. Nossa expectativa é de ainda ter aumento na procura, pois as pessoas deixam para última hora", diz, lembrando que os artigos partem de R$ 2 e podem chegar a R$ 1 mil, com a preferência se mantendo pela compra parcelada no cartão de crédito.
Neste circuito, Cirlene Oliveira, que trabalha com decoração, é uma das que encara a época com otimismo. "Cada ano a procura vem aumentando e com isso investimos 50% a mais em nosso estoque. Além dos adultos, o Halloween ganhou espaço entre as crianças, e os pais embarcam na ideia e compram", afirmou. A visão tem como exemplo a família da consultora ambiental, Gabriela Guimarães, de 45 anos, que veio ao centro acompanhada dos dois filhos, Miguel, 12; e Gabriel, de 13. Ela diz que ainda fará outras buscas e pretende gastar cerca de R$ 400. "Acredito que também é uma forma de socialização, dando a chance de apresentá-los a outras culturas, sem perder a diversão. Pesa um pouco no bolso, mas vale a pena", afirmou.
Passando para o mercado informal, o Halloween também tem se mostrado uma boa pedida. O camelô Antônio Souza, 52, diz que, há cinco anos, troca a venda de eletrônicos pelos materiais do Dia das Bruxas. "Consigo ganhar mais, pois não é todo mundo que vende", revela. Na linha do pequeno ao grande, o sentimento é compartilhado por Joana Nunes, à frente da rede de confeitarias Delícias da Prazeres, com seis unidades na Região Metropolitana. "Investimos R$ 15 mil em insumos, além da contratação de mais funcionários", contou, citando a oferta de tortas personalizadas, doces e cupcakes, todos dentro do tema.
No campo da educação, a rede ABA Global Education, com presença nos bairros dos Aflitos e Boa Viagem, relata investimentos na ordem de R$ 100 mil, na organização de uma festa para os estudantes, neste fim de semana. "É um encontro aberto também para a comunidade, conseguindo atraí-la para conhecer a nossa proposta pedagógica. Quanto mais a gente celebra e desmistifica, vamos tornando a data mais inclusiva", explica a coordenadora de marketing da instituição, Ingrid Corcino.
Quem circular pelo Shopping Costa Dourada, no Cabo de Santo Agostinho, também poderá conferir o Halloween. As lojas adotaram a cultura do Trick or Treat, que significa doces ou travessuras, agradando a criançada com brindes. "Iniciamos no ano passado, ainda de forma tímida, e os resultados satisfatórios nos motivaram a ampliar. A garotada não vem sozinha, mas com seus pais ou responsáveis, e isto acaba refletindo em aumento do consumo em todos os espaços", explica a gerente, Ana Cláudia Dourado. O ticket médio assinala R$ 100.
Na produção de eventos, os profissionais também enxergam o período com bons olhos. É o caso do empresário Tito Lívio, à frente da rede Downtown Pub, com unidades nas zonas Sul e Norte do Recife. "Conseguimos criar uma atmosfera diferente e o público abraça. Partindo do Halloween, seguimos com a temporada de fim de ano, sendo a época mais rentável", afirma, sem revelar o faturamento. No campo industrial, fábricas como a Docile, com planta em operação no município de Vitória de Santo Antão, anunciaram a expectativa de gerar 120% de incremento do faturamento, na sua linha exclusiva de Halloween, em comparação ao ano passado.
Os bares e restaurantes do estado não perdem a oportunidade de explorar a ideia, caracterizando ambientes, funcionários e até o cardápio. De acordo com a Abrasel-PE, que representa a categoria, o incremento esperado é de 10% a 20%, nesta quinzena sazonal. "Como toda data festiva, quando bem explorada apresenta resultados. É um tema que traz consigo muita criatividade, usando de vários recursos para conseguir a atenção do cliente, que acaba podendo ser fidelizado", explica o presidente, Tony Sousa.