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Pernambuco na dianteira do mercado de cibersegurança

Publicado em: 22/07/2020 08:00 | Atualizado em: 21/07/2020 20:23

Cristiano Lincoln espera alcançar faturamento de R$ 1 bilhão entre seis e nove anos.  (Foto: Tempest/Divulgação)
Cristiano Lincoln espera alcançar faturamento de R$ 1 bilhão entre seis e nove anos. (Foto: Tempest/Divulgação)

Com o mundo cada vez mais digital, uma realidade que foi acelerada por conta da pandemia do coronavírus pela necessidade de uma presença virtual e remota mais forte em questões pessoais e de negócios, a cibersegurança se torna tema estratégico e se fortalece no mercado não só nacional, como também global. A pernambucana Tempest, maior empresa especializada no setor no Brasil, diferente de outros setores da economia, vem sentindo impactos positivos e registrou alta de 15% no primeiro semestre de 2020 sobre o mesmo período do ano passado. Mas é um crescimento que vem se consolidando ao longo dos anos, passando de faturamento de R$ 20 milhões em 2015 para R$ 120 milhões em 2019. Uma nova e robusta rodada de investimentos neste ano por parte da Embraer promete levar a Tempest a novos mercados, como de aeroespaço, infraestrutura crítica e defesa, somada ao cenário potencial para o setor, a expectativa é incrementar as receitas da empresa. A projeção é atingir o faturamento de R$ 1 bilhão entre seis e nove anos.  

Apesar de não ser um tema novo, a cibersegurança vem ganhando projeção forte nos últimos anos, à medida que a sociedade se digitaliza. A pandemia veio reforçar o panorama. "A transformação de uma mudança de 10 anos em 10 semanas e a cibersegurança acompanha isso. As tendências estavam em curso e a pandemia acelerou, a sociedade foi para o mundo digital e existe uma dependência das empresas em cima da tecnologia e isso traz os problemas do dia a dia. Geralmente as pessoas estariam nos escritórios dando mais segurança às ações e agora estão em casa, usando os computadores e internet próprios, aumentando os riscos", explica Cristiano Linconln, CEO da Tempest. 

O cenário favorável se soma a um aporte milionário, que dá perspectiva de um crescimento robusto da Tempest. A primeira rodada de investimentos que a pernambucana recebeu foi em 2016, em torno de R$ 28 milhões. Apesar de não revelar os detalhes do aporte da Embraer na Tempest nesta segunda rodada de investimentos realizada neste ano, o valor foi superior ao anterior, levando a gigante da aviação a ter mais de 50% da estrutura societária da Tempest, percentual também não detalhado. Atualmente, a empresa de cybersegurança conta com cerca de 300 clientes nos mais variados setores, sendo que 65% da receita vem do setor financeiro, como bancos, seguradoras, corretoras e fintechs, e 99% do mercado privado. 

A escolha para a entrada da Embraer foi estratégica. "Esse é o maior investimento realizado no setor de cibersegurança no Brasil e na América Latina e a lógica é para turbinar o crescimento da empresa e a entrada em novos segmentos. A Embraer traz novos mercados para a Tempest. O primeiro é o aeroespacial, na aviação, segurança de aviões, sistema de sianlização e controle de tráfego aéreo. O segundo é da infraestrutua crítica nacional, qu suporta a sociedade e precisa de segurança, como usinas de geração de energia. Uma parte pode estar no setor do governo e outra no privado. O terceiro é o mercado de defesa, em cima de forças armadas, segurança de fronteiras e interesse de estratégias nacionais. São mercados que não estariam abertos se não fizesse esse tipo de escolha", detalha Lincoln.

E as perspectivas de crescimento são positivas com projeções otimistas, mesmo em um cenário de crise econômica global causada pela pandemia do coronavírus. "Temos clientes de diversos setores e alguns sentiram os efeitos da crise, pediram para renegociar pagamento, mas sentimos um aumento na procura e olhamos o segundo semestre com crescimento mais acelerado. A segurança é vista como essencial", explica Lincoln.

Além disso, a cibersegurança será cada vez mais importante e estratégica no mercado privado. "Deixou de ser questão de tecnologia e é discutida pelos executivos. Vamos entrar nos novos setores estratégicos e, além do Brasil ser importante, também vamos partir para o mercado global. Estamos em um mercado que comporta uma empresa de R$ 1 bilhão. Hoje temos receita de R$ 120 milhões, não vai ser um salto de uma só vez, mas a primeira meta intermediária é chegar a R$ 500 milhões em quatro ou cinco anos. Daí para o primeiro bilhão deve levar mais dois ou três anos. Então, no geral, entre seis e nove anos dá para atingir esse alvo", conclui o CEO. 

Fraude financeira é um dos principais cibercrimes no Brasil. (Foto: rupixen/Pixabay/Reprodução)
Fraude financeira é um dos principais cibercrimes no Brasil. (Foto: rupixen/Pixabay/Reprodução)

Formação e contratação de mão de obra no foco 

A Tempest planeja investir na formação da mão de obra para manter um padrão de qualificação nesta jornada de crescimento da empresa pernambucana. Atualmente, são cerca de 300 funcionários entre os escritórios do Recife e São Paulo, no Brasil, e de Londres, na Inglaterra. Mas a estimativa é alcançar o número de mil trabalhadores com a expansão prevista nos negócios. O objetivo é realizar uma aproximação entre a academia, o mercado e centros de pesquisa. E Pernambuco se beneficia por contar com um polo de formação consolidado, com o Cesar e o ecossistema do Porto Digital. 

Segundo Cristiano Lincoln, CEO da Tempest, a cibersegurança está entre as três carreitas mais demandadas. "É uma questão de segurança e a sociedade e as empresas precisam disso", explica. A intenção da Tempest, que tem uma área voltada exclusivamente para formação, é ampliar a integração com a academia e os centros formadores. "Queremos financiar bolsas e estar ligado no ecossistema, criar uma ponte que dá acesso a quem está na academia com quem está no mercado. E a Tempest quer ser essa ponte de acesso", acrescenta. 

Os planos de ampliação no quadro de funcionários segue mesmo neste período de crise por conta da pandemia. "Nos últimos quatro meses contratamos entre 15 e 20 pessoas e esse aporte da Embraer vai acelerar mais contratações", ressalta Lincoln. Os pernambucanos podem levar vantagem nesta questão, não apenas para vagas no estado como também para fora. "Temos excelentes técnicos, mas o mercado contratante local é menor do que o de São Paulo, por exemplo. Temos cerca de 10 funcionários a mais no escritório paulista do que no recifense, mas a maior parte da equipe técnica está no Recife", detalha.

A adoção do home office durante a pandemia também é um impulso que beneficia os pernambucanos. "O trabalho remoto abre portas para a mão de obra qualificada e diminui a distância para acessar as pessoas. É bom para a empresa que quer contratar e para quem quer ser contratado, inclusive para quem está longe dos grandes centros urbanos. Mas vão se beneficiar as cidades que têm um ecossistema de formação de mão de obra qualificada, como o Recife, interior de São Paulo, Belo Horizonte, Santa Catarina e Rio Grande do Sul", pontua. 

Principais cibercrimes no Brasil
segundo Cristiano Lincoln, CEO da Tempest

- Fraude financeira - "a pessoa que hackeia a conta de banco, transfere dinheiro, que rouba cartão de crédito e executa uma compra não autorizada até golpes e crimes virtuais que fraudadores geram empréstimos e despesas no nome de outra pessoa";

- Vazamento de dados - "invasão de ambientes para roubo de dados e que vai ganhar mais projeção por conta da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Inclusive já vemos grupos roubando dados e esperando a LGPD entrar em vigor para extorquir as empresas mais à frente porque as multas serão maiores";

- Extorsão - "alguém que rouba uma base de dados e exige o pagamento de um valor para o resgate. Também tem os que roubam os dados, criptografam e a empresa não consegue mais acessar e fica parada. Então ela precisa pagar para voltar a ter acesso".

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