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Brasil na lista de espera: adesão à OCDE ainda vai demorar

Publicado em: 11/10/2019 07:46

Brendan Smialowski/AFP
O presidente Jair Bolsonaro está confiante de que o Brasil será aceito como membro pleno da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o chamado “clube dos ricos”, mas reconheceu que o processo de adesão, iniciado em 2017, é demorado. “Continuamos firmes e fortes e se Deus quiser, daqui a um ano, um ano e pouco, estaremos dentro”, disse, nesta quinta-feira (10), em vídeo nas redes sociais. “Vai chegar a nossa hora”, declarou.

O comentário de Bolsonaro foram feitos após notícias do vazamento de uma carta do secretário de Estado norte-americano, Michael Pompeo, para o secretário-geral da OCDE, na qual a Casa Branca não endossava a candidatura do Brasil, indicando apenas Argentina e Romênia. A notícia, publicada pela Bloomberg News, deixou a equipe econômica frustrada, de acordo com fontes próximas aos técnicos chefiados pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Bolsonaro disse, no vídeo, que conversou “duas vezes” com o presidente dos EUA, Donald Trump, e falou “rapidamente” sobre a entrada do Brasil na OCDE. Segundo ele, o primeiro país para o qual ele pediu apoio foi Israel. O presidente reconheceu que havia dois candidatos na frente: Argentina e Romênia.  “A seleção é a conta-gotas para esse novo país entrar e cumprir tudo aquilo que está no estatuto”, afirmou. “Não queremos torcer para que ninguém aí fique para trás. Eles escolhem um país da América do Sul e outro da Europa. Tem rodízio”, disse.

Pouco depois da live de Bolsonaro, o secretário Mike Pompeo negou, em rede social, que os EUA retiraram o apoio à candidatura do Brasil para ser membro da OCDE. Contudo, ele não desmentiu a existência da missiva. “A carta vazada não representa com precisão a posição dos Estados Unidos em relação ao alargamento da OCDE”, escreveu. Pompeo acrescentou que, “ao contrário da mídia”, os EUA mantêm apoio total ao processo de candidatura iniciado pelo Brasil, conforme a declaração conjunta dos presidentes Bolsonaro e Donald Trump (dos EUA), de 19 de março. Logo em seguida, Trump reafirmou as declarações do secretário e disse que a notícia da agência Bloomberg era “fake news”.

Confirmação
A embaixada dos Estados Unidos no Brasil também publicou uma nota confirmando o apoio do país à candidatura brasileira, mas em uma “expansão da OCDE a um ritmo controlado, que leve em conta a necessidade de pressionar as reformas de governança e o planejamento de sucessão”. “Todos os 36 países-membros da OCDE devem concordar, por consenso, com o calendário e a ordem dos convites para iniciar o processo de adesão”, concluiu o comunicado.

Em março, quando o presidente Bolsonaro foi a Washington e assinou a declaração conjunta com Trump, em parte, em troca do apoio do Brasil à entidade, o governo brasileiro fez várias concessões. Entre elas, permitiu aos norte-americanos o acesso à base de Alcântara, acabou com a exigência de visto para cidadãos americanos e concordou em abrir mão do status preferencial de país em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A economista Monica de Bolle, diretora de estudos latino-americanos e mercados emergentes da Johns Hopkins University, em Washington, lembrou que a declaração conjunta causou surpresa na época, porque os EUA já tinham manifestado a preferência por Argentina e Romênia. O Brasil sabia disso, mas estava na expectativa de que “poderia furar a fila”.

Uma das principais exigências para que o Brasil entre na organização, fundada em 1961, é a melhora do combate à corrupção, além de uma adequação do emaranhado de regras tributárias, o que vai demandar bastante tempo, segundo analistas. “Confirmamos que seis membros em potencial se inscreveram na OCDE e estão atualmente sob avaliação do Conselho de Administração para adesão. Não comentamos as discussões em andamento, que são confidenciais”, informou a entidade.

Nos bastidores do Ministério da Economia, a palavra de ordem foi “continuar o processo de convergência, regulação e governança com padrões globais, para permitir a inserção” na OCDE. Oficialmente, a pasta não comentou o assunto, mas Guedes deu declarações a alguns veículos de que sabia que o Brasil não era o primeiro da fila. O Ministério das Relações Exteriores também não comentou o assunto.
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