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Entrevista

Os caminhos para uma startup receber o sim entre 250 nãos de um investidor

Publicado em: 16/09/2019 15:44 | Atualizado em: 16/09/2019 15:54

Foto: Divulgação
Ecossistema que cresce exponencialmente e número de startups que se multiplica, mas o que o Brasil experimenta é uma alavancada consistente do mercado de inovação e tecnologia, mesmo ainda correndo atrás de países mais desenvolvidos. Empresas que já se destacam, incluindo oito unicórnios nacionais que entraram para o seleto grupo das avaliadas em US$ 1 bilhão. A crise não afeta esse setor, apenas coloca uma lupa na situação do país, que ainda tem muitos problemas a serem solucionados e uma infinidade de oportunidades para as startups apresentarem as suas soluções. Investidores estão de olho e as oportunidades estão abertas. É preciso saber o que eles buscam.

Anderson Thees, sócio-fundador da Redpoint eventures e que atua como investidor de venture capital, é o nome à frente de um fundo de US$ 130 milhões voltados para startups brasileiras. O dono da chave do cofre não esconde que, apesar de parecer fácil, é um trabalho árduo: para cada sim, ele fala 250 vezes não. Apesar de não detalhar os valores do fundo, ainda existem recursos deste primeiro, porém focados nas empresas que já fazem parte. Ele, no entanto, deixou soltar que uma nova rodada de investimentos está por vir. O que uma startup precisa? Segundo ele, um time de qualidade, mercado grande e problema e solução que estão sendo desenvolvidos, nesta ordem.

Categórico, o investidor afirma que empresas fora do eixo Sul-Sudeste, como as de Pernambuco, levam desvantagem nesta disputa pelo aporte. "Eu crio um fundo, invisto em startups e devolvo o resultado para o investidor. Então eles investem mais onde as empresas têm mais chances de crescer mais rapidamente e normalmente estão no Sul e Sudeste", explica. Porém, ele dá ideia de caminhos promissores. "Das verticais, as fintechs são as que estão mais maduras, funcionam bem no Brasil. A área de saúde ainda não está funcionando, a inflação nos planos de saúde está enorme, quem acertar a mão para resolver isso, vai crescer muito e rápido. A educação também tem espaço para fazer muita coisa". Nesta entrevista ao Diario de Pernambuco, Anderson Thees dá um panorama do mercado brasileiro e dicas para quem deseja não apenas empreender, mas crescer com apoio de um fundo milionário.

Como está o mercado de startup no Brasil?

O que a gente acredita é que o crescimento vai continuar exponencial por um período razoável ainda. O que a gente está vendo hoje é maior do que tinha há 15 anos, mas também é infinitamente muito maior do que há três. O mercado está crescendo em um ritmo acelerado. E as indicações que a gente tem hoje, pelo menos, é que ainda tem muita oportunidade para ser explorada, muita gente nova no sentido de estar pensando nisso agora, não de idade, querendo perseguir essas oportunidades, e uma disponibilidade cada vez maior de capital. Se juntar esses ingredientes vai dar coisa boa. E em relação aos investimentos no país? Também está acelerando muito. A gente vinha em uma curva em que cada estágio vinha sendo fomentado, alcançando novas escalas, o seed, depois a Series A, depois começamos a ter algumas rodadas de Series B e o que viu recentemente foi uma entrada grande de capital na cadeia inteira. Então é supertranquilo afirmar que a gente está no melhor momento de funding do ecossistema que a gente já teve desde o início.

O que uma startup precisa ter e fazer para conseguir receber um investimento?

A gente sempre olha três fatores principais. O primeiro deles é a qualidade da equipe. Isso de longe é o mais importante e quanto mais cedo é o estágio da startup, mais importante é a qualidade do time, isso em geral, para qualquer coisa. Para receber o investimento de um fundo, o segundo critério é o tamanho do mercado. Muitas vezes você tem uma empresa muito interessante com um produto muito legal, que vai atuar em um segmento onde o mercado não é muito grande. Vai ser um resultado muito bom para o empreendedor, mas não funciona para o fundo. Então precisa estar com os interesses alinhados. Por isso o segundo critério para o investidor de um fundo é um mercado muito grande. E o terceiro fator é qual é o problema ou o produto que esse empreendedor está desenvolvendo. Se for uma empresa mais madura, o produto tem que estar mais bem formatado. No estágio que a gente atua, a gente olha muito qual é o problema que está sendo resolvido porque, muitas vezes, o que o empreendedor faz hoje depois de a gente investir e ele testar coisas novas, ele pode vir a mudar o produto. Problema ou produto são dois lados da mesma moeda, dependendo de quanto você já andou, mas esse é o terceiro fator que a gente olha. Então é equipe, tamanho do mercado e produto/problema.

Uma startup deve resolver um problema e de qualquer setor, seja mercado financeiro ou construção civil, por exemplo. Ela deve realmente enxergar o mercado como o problema que ela pode solucionar?

 Sem dúvida é isso aí. Tem uma definição legal para startup, que é uma empresa enorme enquanto ela ainda está pequenininha, que resolve um problema real do mundo real. Então é basicamente isso aí.

Quanto à questão da regionalização, é mais difícil para startups que estão fora do eixo Sul-Sudeste?

É realmente mais difícil de quem está inserido no ecossistema de São Paulo ou de Florianópolis, por exemplo, mas é infinitamente mais fácil do que era há 10 anos. A disponibilidade de informação e a quantidade de troca feita de forma digital hoje é muito maior. Eu não vou tentar enganar ao falar que é mais fácil montar uma startup em Pernambuco do que em São Paulo porque não é. Mas eu posso dizer que é muito mais fácil montar uma startup em Pernambuco hoje do que há cinco anos.

É difícil dizer tantos não?

A gente olha 250 empresas para cada uma que a gente investe. A gente fala não o tempo todo. O pessoal acha que é um trabalho superglamuroso, mas não é. E você pode falar que das 250 tem coisa que não é boa, mas tem aquelas com um plano de negócio de empresa boa, mas que não é do nosso segmento, tem um monte de coisa. Mas, com certeza, mais da metade delas são projetos tocados por empreendedores muito bons, apaixonados pelo que fazem e têm certeza que vai dar certo.

Vocês olham para algum segmento específico ou você acha que uma solução pode abranger, no futuro, algum setor que vocês podem ter interesse?

O principal que a gente olha é se a tecnologia está sendo usada para fazer um ganho de eficiência grande. A gente gosta de falar de uma ordem de grandeza, um fator de 10 vezes. Se a startup cria o que está se propondo a criar e, com isso, se ela vai fazer alguma coisa 10 vezes mais barata, 10 vezes mais rápida, 10 vezes melhor. O que a gente busca é esse fator. Na indústria, especificamente, a gente é bem flexível.

Quais são os segmentos que podem crescer e receber mais investimentos?
Tem muita coisa para ser feita no Brasil. Tem a oportunidade de pular uma geração inteira ou mais de tecnologia. A visão mais abstrata que se pode ter é que o Brasil precisa resolver um monte de ineficiências. E isso vai ser feito ou através de grandes investimentos em infraestrutura, que não tem nada a ver com o que a gente faz, ou investimentos em tecnologias que alavancam a infraestrutura que a gente já tem, e aí a gente gosta, ou em tecnologias que substituem a necessidade de infraestrutura, que a gente também adora isso. Então onde você olhar no Brasil e ver alguma ineficiência, ali tem uma oportunidade para o empreendedor criar alguma coisa nova.
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