Diario de Pernambuco
Busca

OBSERVATÓRIO ECONÔMICO

Mudanças Climáticas

Publicado em: 15/07/2019 14:17 | Atualizado em: 18/07/2019 11:35

As temperaturas médias globais têm subido nas últimas décadas e parte da explicação se deve às emissões de gases de efeito estufa, resultado das atividades humanas (consumo e produção de bens e serviços). Mais do que aumento das temperaturas, temos testemunhado maior frequência de eventos climáticos extremos. São secas prolongadas, intensas ondas de calor, tempestades, inundações, entre outros. Quais as causas desses efeitos? Qual a participação do homem neste processo? Quais os efeitos sobre a economia?

É possível fazer algo para mitigar tais efeitos? É possível evitar o aquecimento global? São muitas questões, com respostas ainda não muito claras.

Economistas têm se debruçado sobre essas questões, analisando as causas e consequências, propondo políticas e avaliando alternativas de mitigação. Um trabalho recente de Matthew Kahn e coautores (Long-Term Macroeconomic Effects of Climate Change: A cross-country analysis) utiliza uma metodologia econométrica na tentativa de avaliar os impactos macroeconômicos de longo prazo da mudança climática. O trabalho usa dados para 174 países (desenvolvidos e em desenvolvimento) ao longo dos anos de 1960 a 2014.

Eles encontram que alterações da temperatura acima (ou abaixo) da média histórica afetam negativamente a taxa média de crescimento do Produto Interno Bruto per capita. Em outras palavras, quando a temperatura fica acima ou abaixo da média histórica, a economia tende a ficar mais pobre. Esse resultado é interessante porque se contrapõe a alguns outros que apontam para efeitos positivos para aumentos da temperatura em países mais frios. Os efeitos negativos independem do nível de desenvolvimento, embora possam ter dimensões diferentes, com efeitos mais drásticos em economias pobres.

Outro resultado é que, na ausência de políticas de mitigação, se as projeções de elevação média da temperatura global de 0,04 graus Celsius por ano se mantiverem, o PIB real per capita seria reduzido em 7,22% em 2100 em relação à 2015.  Por outro lado, se as metas estabelecidas no Acordo de Paris forem alcançadas e as elevações na temperatura se mantiverem em apenas 0,01 graus Celsius por ano, o efeito seria de apenas 1,07% no PIB real per capita. Ainda importante, mas, ao menos, mostra que se nos movermos na direção de mitigar o aquecimento global poderemos minimizar seus efeitos adversos.

Formuladores de políticas, economistas e outros cientistas vêm discutindo o que pode ser feito e, particularmente, como fazer para que os agentes econômicos (famílias, firmas e governos) levem em conta os efeitos adversos sobre o clima de suas escolhas de consumo e produção. Uma lição básica é que pessoas respondem a incentivos. Impostos sobre emissões de poluentes, sobre o uso de recursos não-renováveis, particularmente energia, são algumas dessas alternativas.  Em um trabalho com Yuri Lima e Silva, professor de Economia da UFRR e doutorando do PIMES/UFPE, mostramos que além de impostos sobre emissões, é possível se pensar em políticas tributárias que desestimulem o uso de energia não-renovável e estimulem o uso de energia renovável.

É possível ainda incentivar a inovação, não apenas em tecnologias de adaptação, que tornem a produção mais resistente às alterações climáticas, mas em novos produtos e serviços. Não nos faltam exemplos de inovações que reduziram o consumo de recursos naturais, a emissão de poluentes e contribuíram positivamente para o meio-ambiente. Quantas árvores o pen-drive ou os e-readers já salvaram? Como nos ensina a Economia, pessoas respondem a incentivos. Sem mexer neles, esforços isolados serão ineficazes.
TAGS: obseconomico |
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL