As rodovias, principal meio de escoamento de produção estadual, passaram a ser um furo no orçamento do setor produtivo. Não apenas pela precariedade dos asfaltos, mas pelos números da violência. No ano passado, o número de registros do tipo cresceu 60%. Os constantes roubos fizeram com que os custos com ações preventivas subissem. Com isso, cresceu também o custo do transporte terceirizado, que inclui o valor do frete. De acordo com o presidente da Associação Pernambucana de Atacadistas e Distribuidores (Aspa), José Luiz Torres, na maior parte das empresas do setor, o seguro é muito alto para casos de roubo de cargas, que seriam a principal demanda do setor.
“Os caminhões são segurados, mas não a carga. Quando o serviço de transporte é terceirizado a empresa normalmente tem seguro e embute esse custo no valor do contrato. Então, de toda forma, o custo é repassado”, pontua. Segundo ele, já existem algumas rotas que são consideradas mais visadas pelos criminosos, como a BR-101 Sul, a BR-232 e nas proximidades da Arena de Pernambuco. “São trechos conhecidos, que tentamos evitar e que as empresas de transporte já monitoram também”, diz.
Os números de roubos de carga em Pernambuco fizeram os custos com seguros de algumas indústrias dobrarem. É o caso da Masterboi Alimentos. Hoje, o custo mensal com o segmento de distribuição a partir dos frigoríficos, localizados no Norte do país, é de R$ 15 mil, valor que inclui custo de seguros, iscas e seguradora de risco. “A incidência maior de roubo de carga é no Nordeste e Sudeste do país. E nessas duas regiões o destaque fica para Pernambuco e Rio de Janeiro. São os estados com maior risco. Então, as seguradoras cobram um valor por carga e, no caso de entrega nesses estados, o valor sobe porque precisa incluir a isca e a seguradora”, explica o diretor da empresa, Miguel Zaidan.
Segundo o executivo, no caso da Masterboi, o impacto é maior pois 90% da carga vem para o Nordeste. Além disso, desse total, 60% tem Pernambuco como destino. “Para se ter ideia, caso a distribuição fosse realizada apenas em Pernambuco, o custo mensal seria de R$ 100 mil, inviabilizando a operação. Por isso adotamos medidas alternativas com custo menor, como a saída dos caminhões em comboios. O problema é que aí o impacto é na nossa competitividade. Perdemos por conta da insegurança nas estradas”, lamenta.
Medidas alternativas também estão sendo adotadas por outras indústrias pernambucanas. No caso da Karne e Keijo, o custo mensal para ter direito a cobertura da seguradora seria de R$ 25 mil. “No ano passado, tivemos quatro cargas roubadas. Em cada uma o prejuízo foi entre R$ 15 mil, e R$ 20 mil. Então não compensa eu ter esse custo mensal”, afirma o presidente da indústria, Inácio Miranda. Uma das alternativas encontradas está sendo a utilização das chamadas iscas, uma espécie de radar escondido nas mercadorias.
“Botamos dentro das caixas das cargas nos caminhões, assim, em caso de roubo, temos mais chance de recuperar e o custo é de R$ 80 por isca. Hoje eu pago uma média de R$ 3 mil por mês com esses equipamentos”, detalha. Por outro lado, a sede industrial da empresa, localizada no bairro do Barro, possui seguro contra incêndio, uma garantia. “Nesse caso, é um custo que compensa pois é um risco e, havendo, podemos ter prejuízos”, ressalta. A empresa está completando 40 anos e hoje possui cerca de 850 funcionários.
Nas indústrias, outra prática corriqueira é a adesão a seguros devido à contratação de financiamentos para aquisição de maquinários. É o que acontece na Frompet, indústria de pré-forma de garrafa PET, localizada no Complexo Industrial Portuário de Suape. Por ter bens financiados junto a bancos nacionais, a empresa precisou aderir a apólices seguradas. “Nosso seguro tem a vigência do financiamento. Para nós, não é vantagem ter além disso. Sem o financiamento não faríamos porque o risco é baixo. A probabilidade de acontecer um problema elétrico em mais de um equipamento é mínima. Então, para nós, é mais vantagem investir na manutenção e tratar caso a caso”, pontua o controller da Frompet, Fernando Rocha. Segundo ele, a distribuição dos produtos é terceirizada e aí o preço do seguro é embutido no frete cobrado. “Neste caso, a carga tem que ser segurada, mas a transportadora possui o seguro e nos repassa no valor do frete”, explica.