Com o tempo, o empreendimento cresceu, atraiu a participação do marido de Lucilaine e de um sócio, e a marca começou a se expandir também por meio do sistema de franchising, a partir do ano passado. Hoje, além de três unidades próprias (Serra e Cariacica, no Espírito Santo, e a cidade do Rio de Janeiro), já são 30 contratos assinados e oito unidades em funcionamento. Lucilaine pretende oferecer mais três cursos ainda em 2018 e espera chegar a 50 unidades franqueadas.
Para Maria José Garcia, 57 anos, o começo da vida como empreendedora, em 2009, também foi difícil. Ela tinha 25 anos de experiência no mercado de terceirização, mas foi demitida depois que o dono da empresa passou a gestão do negócio para os filhos. Em seguida, soube que estava com câncer e logo depois veio a separação, relembra Paula, 24 anos, a filha caçula.
Amigos e fornecedores dos tempos em que ela trabalhava a encorajaram a partir para um negócio próprio. O começo da Hineni Serviços foi na casa da família, com o atendimento a condomínios que contratavam mão de obra para a limpeza e para o serviço de portaria. O único compromisso assumido pela matriarca naquele momento foi que nunca tiraria clientes da antiga empresa. Assim, o negócio cresceu e hoje ela, Paula e a filha mais velha, Carolina, 27 anos, dividem a gestão do empreendimento.
Um negócio administrado por mulheres, lembra Paula, tem lá as suas dificuldades. Uma delas é o assédio. “Já ouvi coisas do tipo ‘vamos trocar a reunião das 18 para às 19h?’”, lembra. Em outra ocasião, depois de uma longa negociação por e-mail, ela levou a proposta pessoalmente para o potencial cliente. “Preferi ir acompanhada de um amigo porque, infelizmente, às vezes é a forma de afastar esse tipo de situação. E apesar de estar tudo certo antes do contato pessoal, quando o quase cliente viu que estava acompanhada, desistiu do negócio sem explicação”, lamenta.
Paula não divulga o faturamento, mas diz que cresceu 84% no ano passado e a previsão para este ano é dobrar de tamanho. O otimismo tem a ver com a imersão que a empresária fez no Programa Mulher Empreendedora, do Itaú Unibanco, que já teve a participação de quase 9 mil mulheres, promoveu 43 workshops, 13 rodadas de negócios e 24 cafés. O objetivo do projeto, explica Maria Eugênia Sosa Taborda, gerente de Sustentabilidade da instituição financeira, é inspirar empreendedoras ao permitir o acesso a outras histórias de negócios e melhorar a capacitação técnica e de gestão para alavancar os negócios.
“Procuramos que as participantes, de pequenas ou grandes empresas, se vejam como uma fonte de inspiração para outras mulheres e que compartilhem suas experiências, seja de fracassos ou de sucessos”, diz Maria Eugênia. Para a executiva, um programa como esse atende ao papel social que o banco tem, mas também à área de negócio. “Se elas crescem, é um jogo de ganha-ganha. Hoje, 58% do total de clientes do banco são mulheres”, completa.
A dedicação ao negócio
39% das empreendedoras trabalham 9 horas ou mais por dia
Em média, dedicam 7,5 horas para o negócio, 2,8 horas
para os filhos/família e 1,8 hora para lazer
58% dos negócios são ligados à prestação de serviços, 28% ao comércio, 28% à indústria e 9% a outras atividades (como agropecuária e instituição do terceiro setor)
44% dos negócios foram iniciados há menos de 3 anos
50% 50% das empreendedoras contam com a ajuda de pelo
menos uma pessoa
35% das empreendedoras têm sócios.
17% das MEIs têm sócios
39% das MEIs contam com alguém trabalhando no negócio
Entre as microempresas e empresas de pequeno porte
53% das empreendedoras são as únicas responsáveis pelo planejamento e controle financeiro da empresa
94% das empreendedoras participam de atividades ligadas a atendimento a clientes e vendas
83% das empreendedoras têm envolvimento direto com produção dos produtos/execução dos serviços
65% das empreendedoras precisam contratar mais funcionários para que o negócio possa crescer
77% das empreendedoras não têm dívidas
Principais necessidades apontadas pelas entrevistadas
* Organizar melhor seu tempo
* Dedicar mais horas ao negócio
* Contratar funcionários para crescer
* Ter acesso a crédito para investir no negócio
* Pagar dívidas pessoais
* Divulgar mais e melhor o negócio
* Fazer networking
Fonte: “Empreendedoras e Seus Negócios”, feito pela Rede Mulher Empreendedora, em Instituto Rede Mulher Empreendedora e com o patrocínio da Avon, Sage e Facebook/2017
Mais necessidade de empreender e remuneração menor
A pesquisa GEM mostra que as mulheres brasileiras abrem mais empresas por necessidade. Entre os novos empreendedores, 48% do universo feminino diz que escolheu essa alternativa de renda por necessidade. Entre os homens, esse número é menor, de 37%.
Outro dado da GEM aponta que as mulheres concentram as atividades empreendedoras em algumas segmentos, atuando em serviços domésticos, cabeleireiros e tratamento de beleza, comércio varejista de roupas e acessórios e serviços de bufê e de comida preparada. Já os homens empreendem em atividades mais variadas. A pesquisa reflete ainda uma realidade conhecida do mercado de trabalho. Apesar de as empresárias serem mais escolarizadas, ainda ganham menos: 73% delas recebem até três salários mínimos, contra 59% do universo masculino.