Economia

Fake news e a economia

Por Fernando Dias (*)

Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação

Como assim não existe? Isso mesmo, o falso restaurante foi uma brincadeira do jornalista britânico Oobah Butler, quer criou um site falso e juntamente com familiares e amigos escreveram diversas resenhas mais que positivas. O objetivo era ver o efeito de resenhas perfeitas mesmo que sem qualquer fundamento, e como resultado se tornou o restaurante mais desejado em Londres apesar de ser obviamente impossível conseguir uma reserva lá. Como foi descoberto? Não foi, ao menos não a tempo do vexame no Trip Advisor. No final o próprio Butler informou a pegadinha em uma matéria na revista Vice.

Este pitoresco episódio é só mais um na já quase infindável lista das fake news que assombram as mídias sociais e colocam em risco a credibilidade das notícias independentes. Fake News é uma notícia falsa criada com diversos objetivos, que vão desde divertir o leitor até enganá-lo, e não é novidade. Em tempos que não havia internet haviam até revistas e jornais especializados em notícias exóticas e extravagantes, mas isso mudou drasticamente. De Trump a Dilma, as fake News vêm influenciando eleições e o cenário econômico sem que uma solução razoável esteja disponível para filtrar este tipo de conteúdo. Atualmente mesmo as grandes empresas nas redes sociais, particularmente o Facebook, vêm gastando milhões de dólares em algoritmos sem sucesso.

Como uma notícia falsa afeta o cenário econômico? Afetando a formação de expectativas dos agentes. Em um sistema econômico dinâmico boa parte das ações são tomadas com um conjunto incompleto de informações, e o agente econômico precisa de alguma forma suprir estas informações que faltam com expectativas. Para formar suas expectativas, por sua vez, ele se utiliza das informações que ele tem disponível, e aí se abre a porta para ser influenciado por notícias falsas.

Mas uma notícia falsa não pode ser verificada? Sim, pode, mas a maioria das pessoas não checa as informações que recebe dos meios que ela confia, seja de uma grande rede jornalística ao grupo do WhatsApp dos colegas da escola. Não é preciso ir longe para encontrar mesmo PhD´s que não só acreditaram em fake news com ainda repercutiram e compartilharam as mesmas em suas redes sociais. Se nem os cientistas checam no dia a dia, quiçá o cidadão comum. Evidentemente que alguns agentes podem se aproveitar disto para criar informações que os beneficiem, ou mesmo beneficiem outros que lhe interessam, como é o caso por exemplo da discussões e investigações sobre a eleição do atual presidente dos Estados Unidos.

No curto prazo temos que decisões estão sendo influenciadas por informações falsas e se tornam, por consequência, menos eficientes para dizer o mínimo. No longo prazo se coloca em dúvida a veracidade de qualquer notícia independente e, por consequência, de um dos principais elementos inovadores das redes sociais. Não há qualquer incentivo individual para que o criador de fake news mude seu comportamento, teremos de aguardar implementos tecnológicos para lidar com o problema ou voltaremos a época que só dava para confiar na mídia tradicional.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
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