Enquanto reverencia a própria história, a Frísia tenta ampliar o uso de tecnologia em sua produção. Parte desse investimento em automatização é representado pela Melkstad, empresa proprietária de um sistema em formato de carrossel que permite a ordenha de 50 vacas ao mesmo tempo.
Seis produtores se uniram para formar um rebanho que hoje tem 1.180 vacas em lactação e adquirir o equipamento americano, em um investimento de R$ 30 milhões. ‘Temos capacidade de chegar a 1,9 mil vacas em lactação com o investimento já feito”, diz Diogo Vriesman, sócio-diretor da Melkstad.
Além disso, propriedades de menor porte têm adquirido equipamentos menores, de R$ 1 milhão, chamados pelos cooperados de “robôs”. Uma das máquinas já instaladas na cidade fica na casa de Jan Erkel, de 74 anos. O produtor rural chegou em 1993 à cidade e comprou 200 hectares de terra. Veio com a mulher e um dos filhos, para começar do zero. Ao lado de Jannie, começou a entregar seu leite na cooperativa. "Primeiro a gente tinha uma só vaca produzindo, depois veio a segunda, a terceira...", lembra.
Após um tempo parado, o patriarca dos Erkels decidiu interromper a aposentadoria, reuniu um novo rebanho de 70 vacas e investiu numa ordenhadeira automática. Jan e Jannie acompanham a produção em tempo real olhando gráficos em um laptop, sem sair de casa.
Um dos investimentos mais recentes da Frísia e de suas sócias - uma unidade de produção de derivados de suínos - já destina 30% de sua produção à marca Alegra, hoje distribuída no Paraná e em alguns varejistas de São Paulo, como Hirota e Assaí (do Grupo Pão de Açúcar). Um terço da produção é destinado à exportação de cortes de carne, enquanto o restante é dividido entre industrialização para terceiros (como Ceratti) e de itens para restaurantes (como bacon para o McDonald’s e costela para as redes Applebee’s, Madero e Outback). A fábrica hoje abate 3,2 mil porcos por dia, mas pretende atingir 4,5 mil unidades ao fim de 2018.
A busca por um viés mais forte de industrialização é um objetivo comum do setor cooperativista, segundo o consultor em commodities Etore Baroni, da Intl FC Stone. Mesmo líderes do setor - como a Coamo, maior cooperativa da América Latina - estão atrás de uma dependência menor das commodities.
Nesse cenário, o modelo a ser seguido é o da catarinense Aurora, cooperativa que é a terceira colocada no mercado nacional em vários derivados da carne, atrás somente de BRF e JBS. "Existe uma busca generalizada por diversificação no setor, com níveis variados de sucesso", disse Baroni.
Parceria
Em vez de apenas fornecer matéria-prima, a Frísia trabalha em parceria com duas outras cooperativas - a Castrolanda e a Capal, localizadas em cidades vizinhas - e definiu três pilares de atuação: leite, carne e trigo. As três cooperativas, que já atuavam juntas na época da Batavo, agora trabalham para construir novas marcas, entre elas a Alegra e a Colônia Holandesa, que pertencem à Frísia.
A próxima empreitada da fundadora da Batavo em busca de seu lugar nas prateleiras se dará no moinho de trigo. A cooperativa já criou uma marca para sua farinha - Herança Holandesa -, mas hoje ela é distribuída apenas no atacado. Isso deve mudar em breve: o projeto é que a venda no varejo paranaense comece em 2018, segundo o presidente da Frísia, Renato Greidanus. Será mais um passo para a cooperativa deixar de ser vista apenas como a centenária criadora da Batavo.